terça-feira, 11 de dezembro de 2012

Contos russos, nossos contemporâneos

Tirania, miséria, burocracia, frustração, loucura, infâmia: todos os ingredientes da vida brasileira estão presentes nos contos russos do final do século 19 e início do 20


O que há em comum entre o país narrado pelos grandes autores russos do século 19 e início do 20 e o Brasil? Muita coisa, como a tirania, a servidão, a miséria, o povo ao relento. Falta apenas o talento, fonte de gênios da literatura, que souberam transformar a nação reportada num cenário inesquecível do drama humano. Neste ensaio, abordamos contos de Tolstói, Górki e Turguêniev, entre os mais conhecidos, e outros nomes mais ocultos, como Kuprin, Sologue, Búnin, Andreiév, Garshin, Ko­rolenko e Tchirikon. Eles expressam com lucidez e impiedade o que há de mais valioso num país diante do seu destino: a população que luta pela sobrevivência e sonha para se manter à tona.

O alpinismo social na tirania

A sociedade radiografada pelo gênio de Tolstói em “A Morte de Ivan Ilitch” e “Senhores e Servos” (do livro “As Obras-Primas de Liev Tolstói”, Ediouro, tradução de Mar­ques Rabelo e Boris Sch­naiderman) é a que mais se parece com a do Brasil velho de guerra. O primeiro conto, ou novela, considerado obra-prima da literatura universal, aborda a classe média ascendendo por meio da carreira nos órgãos públicos. Esse alpinismo em direção ao estamento se faz com ambição e mediocridade, com falsidade e tenacidade, com a reprodução, por gerações, dos mesmos papéis sociais passados de pai para filho, pela sociedade de classes onde se insere a casta privilegiada de juízes e promotores. A disputa pelo butim, o arrivismo na troca de governos, a prepotência do mando e das assinaturas diante de uma população desarmada e pobre, tudo está lá, de maneira límpida e absolutamente cruel.

A fase terminal do protagonista abre seus olhos para a indiferença dos contemporâneos, a falta de solidariedade da família (o barulho de fru fru da saia chic da filha em noite de gala no momento em que o pai se esvaía em dor e morte é de arrepiar), a brutalidade nas relações humanas, o vazio e a infelicidade de uma trajetória dedicada ao nada e a coisa nenhuma, sob a capa de uma vida respeitável e honesta. É tudo mentira, mas só a presença da morte pode deixar explícita toda a trama de horrores de que é feita uma sociedade de classes.

Tolstói sabia do que estava falando. Abandonou faculdades e empregos, se insurgiu contra os desmandos no Exército, abandonou bens e família já em avançada idade: ele não queria para si o destino de Ivan Ilitch, o juiz que enxergou tarde demais. Um insight que ele economiza para as gerações que o sucederam, e que assim mesmo não aprenderam a lição, já que reproduzem o mesmo quadro indefinidamente. O que vemos hoje? A falsidade imperante, as carreiras profissionais fundadas no fingimento, na mentira e no marketing pessoal, a violência dos mercados, do trabalho, das pessoas e dos produtos.

Pense, como Ivan Ilicht, nos momentos felizes da vida profissional e adulta. Ivan teve que ir buscar na infância algumas migalhas de felicidade, já que depois não encontrou mais nada. É assim a vida que vivemos. Por mais amizades que tenhamos feito, por mais vitórias acumuladas, um balanço sincero de quem queima os navios para viver uma vida diferente poderá revelar o que fica oculto: o de que estamos submissos a essa gana pela sobrevivência, que nada respeita na sua carruagem de fogo. Radical demais? Tolstói, com seu talento insuperável e maestria, prova que não.

No segundo conto, são os mandões que enriquecem explorando tudo e todos e colocando a canga em cima das necessidades alheias. O protagonista arrisca a vida e a do seu servo para fechar um negócio inspirado pelo seu medo de perder dinheiro. Ele precisa enfrentar a tempestade para poder passar a perna em quem vai vender e nos seus concorrentes, que querem comprar a mesma floresta. Sua intenção é devastar o lugar para conseguir o máximo de lucro. Quanta coincidência, não?

Esse personagem descobre, quando fica preso no meio da neve e do vento, que é mais importante viver do que conseguir mais riqueza. Mas também é tarde demais. Ele ainda consegue recuperar parte da sua humanidade ao salvar o servo do congelamento, mas sua morte prova que esse gesto foi o único de sua vida estéril. É assim que acontece: vamos adiando a verdade até que não podemos mais abraçá-la, a não ser na hora final. Por que não queimar etapas e hoje mesmo começar a mudar? Por que é difícil, porque significa arriscar a sobrevivência. Precisamos fingir, mentir, para continuarmos vivos, ou não?

Ou tudo não passa de uma armadilha da sociedade de classes, do poder monopolizado de czares que definem nossas vidas enquanto gargalham? Pelo menos, ler Tolstói nos resgata para muitas verdades e para o entusiasmo de mergulhar num texto realmente primoroso e eterno.

Mestres ensinam a narrar

“A Mãe de Branco”, de Sologue, e “O Mártir da Moda”, de Kuprin, são dois contos do livro “As Obras Primas do Conto Russo”, (Martins Edi­tora), que abrem o leque da nossa percepção não apenas em relação à literatura russa, que a vemos sempre ligada aos grandes dramas épicos ou à denúncia das mesquinharias cotidianas, ao enfrentamento do clima áspero ou a dura vida nos desertos e na infindável miséria. Eles também nos levam pela mão para os inumeráveis recursos da narrativa, que podem nos transportar para mundos imaginados que nos pareciam exclusivos de nossa mente, mas também, descobrimos abrindo o livro, fazem parte de outros povos; e de realidades próximas que identificam tradicionais assombrações com nações e tempos remotos.

Sologue é um artista da palavra impregnada por aquele clima romântico atraído para a morte e a névoa, tão caro aos nossos poetas como Cruz e Souza ou Álvares de Azevedo. Tamara, o amor impossível, diáfana, quase transparente, é a sedução do celibatário que não suporta gente e festas de fim de ano. Ele prefere mergulhar no seu sonho, lembrando a jovem que namorou rapidamente, antes que fosse acometida por mal súbito e morresse, deixando nosso solteirão abandonado para sempre.

Parece coisa típica do século 19, mas vemos como a morbidez amorosa atrai multidões até hoje, com vampiros galantes, fantasmas sedutores e alienígenas cheios de charme. Tudo é soma na cultura, não existe mais essa fila analógica de tendências, tudo é simultâneo, contemporâneo. Não há superações. Há, claro, a experiência adquirida, mas a abordagem das várias artes é onívora, ou seja, gosta de tudo. Podemos ser árcades, românticos, radicais, revolucionários. Ou hilários, como o conto de Kuprin sobre o marido muito gordo e rico que, por amor à bela esposa, fica pagando inúmeros micos para acompanhar as modas das artes.

Lá vemos o pobre marido vestindo casacos futuristas, tentando sentar em cadeiras absurdas (como as de “design” hoje, feitas para exposições e não para serem usadas) e querendo o divórcio porque não aguentava mais fazer papel de ridículo diante dos seus amigos e parceiros de negócios. As modinhas que obrigaram nosso amigo a tomar essa decisão, depois que caiu de barriga no chão num lotado espaço de patinação, continuam em vigor, de várias formas. Vi isso muitas vezes. Gente fazendo pose, notando detalhes da tua roupa, fingindo que são vanguarda mas continuam presos a velhos hábitos. No fundo, não mudamos nunca. Somos como esses personagens tão magistralmente retratados pelos mestres russos, que nos encantam com o poder de suas palavras.

Gosto desses temas aparentemente bizarros mas que tem tudo a ver conosco. Tanto as assombrações quanto o humor de situações humanas. Precisamos rir de nós mesmos para que o mundo não se acabe de vez em barbárie. E imaginar outros mundos, para que possamos conviver com o mistério. Esqueci de dizer: o celibatário acaba adotando um órfão, obedecendo assim a sugestão do seu fantasma amoroso.

Em “A Glória”, Búnin fala do fascínio que seu povo tem pelos patifes. Ele aborda os enganadores seguidos por multidões apenas pelo fato de exibirem um comportamento bizarro confundido com sagrado. Búnin sabia abordar o povo e era um dos escritores favoritos de um especialista nesse assunto, Máximo Górki. O mujique que gostava de tomar litros de chá açucarado e que nem sabia ler cartas, mas era convocado para consultas de todo o tipo; o limpador de latrinas que cantava em eventos religiosos e sociais e que vivia recebendo presentes, doces e dinheiro; o camponês que decidiu ser um pregador e saiu em andrajos e causou grande impressão ao mugir em missas e funerais; o porteiro que um dia resolveu profetizar e que causava grande veneração popular; e o homem que dava cambalhotas nas peregrinações provocando alvoroço. Todos são personagens dessa galeria impressionante.

Em “O Grande Slam”, outro exemplar da mesma coletânea, Andreiév aborda um grupo de quatro pessoas que se reuniam metodicamente para jogar cartas. Ele nos leva para um desfecho trágico depois de descrever uma rotina que deveria ser de lazer. Mas é apenas formalidade, vazio de vida, pessoas que ficaram próximas durante anos e não sabiam nada uma das outras, nem onde moravam. O autor descreve magistralmente as contradições do comportamento social falso, quando, por exemplo, a mulher do grupo se atrapalha e é aparentemente tolerada pelos seus parceiros de jogo. Eles fazem as honras da masculinidade para os caprichos da mulher, mas não escondem a irritação por ela ser tão desastrada.

O conto também é um toque sobre o objetivo principal do evento, que seria conseguir o grande lance, o que jamais ocorre, pois a expectativa, a ansiedade e a frustração impedem que um dos jogadores, cardíaco, chegue ao final. Conviver com o corpo inerte em cima da mesa onde se distribuíam as cartas é um detalhe sinistro deste brilhante conto de mais um autor russo, que nos deslumbra pela sua capacidade de exercer um ofício tão complicado como é a literatura.

Em “Fausto”, de Tchirikov, o casal pequeno burguês que vive vida vegetativa, ele bancário viciado em jogo de cartas que odeia sua casa, ela a esposa ressentida e frustrada que lamenta a perda da juventude e da beleza. Mas ao quebrarem a rotina e irem ao teatro ver a peça de Charles Gounod sobre o homem que vendeu sua alma, eles recuperam o viço e resgatam a emoção de viver. Descobrem que são invejados pelos amigos e se flagram mais próximos do que nunca.

Em “O Sinal”, de Garshin, autor que morreu cedo demais, com 33 anos, temos a história de um camponês que foi pra a guerra e lá exercia atividade subalterna de servir samovar para os oficiais. Pegou reumatismo nos rigores da campanha e não podia mais lavrar a terra. Saiu pela estrada de ferro afora atrás de emprego e encontrou um veterano a quem servia no front, que lhe deu o emprego de guarda-trilhos. Uma cabana onde poderia plantar e viver com a mulher e enfrentar o inverno e pronto, lá estava ele feliz e orgulhoso com sua lanterna e suas ferramentas. Quis fazer amizade com vizinho, que era muito revoltado e acabou cometendo um crime: arrancou um trilho na iminência da chegada de um trem cheio de famílias pobres.

Nosso herói foi para o meio da estrada e como não tinha jeito de avisar a tempo, cortou profundamente o braço e embebeu um pano de seu sangue e o colocou na ponta de um mastro como bandeira. O maquinista viu e freou. Como saiu muito sangue, ele desmaiou no meio da sua ação, mas a bandeira foi assumida pelo próprio criminoso. “Amarrem-me. Eu arranquei um trilho”, disse o culpado. Grande literatura. Faz chorar as pedras.

Na Rússia do século 19, havia a postura bem pensante dos intelectuais em relação à grande massa de camponeses e marginalizados das cidades. Até que chegou Máximo, o amargo, ou Górki, que veio da Rússia profunda, do povo mesmo e mostrou que a humanidade a qual pertencia nada tinha de cavalheiresco ou nobre ou desprezível. Eram brutos, geniais, soberbos, mesquinhos. Humanos por toda a conta. Texto magistral e enxuto, Górki no conto “O Acidente”, mostra como três rapazes embrutecidos fazem serviços pesados e caem na tentação do roubo e da mentira. E como expressam sua espiritualidade pelo avesso, ao serem contratados pela velha carola que lê a Bíblia enquanto eles pegam no pesado.

O narrador é o próprio Górki, que sofreu horrores até ser aclamado como um gênio literário pelo povo russo. Há ainda o debochado e o ingênuo, ambos vítimas das péssimas condições de sobrevivência. Górki mostra tudo sem fazer firulas. Precisamos desse exemplo para entendermos que fazemos parte do povo e não nos destacamos dele como se fôssemos os eleitos.

Em “O Encontro”, de Tur­guêniev, o narrador é testemunha de uma despedida de um casal no ermo, em meio à natureza. A exuberância do ambiente, descrito com maestria, se contrapõe ao drama entre o conquistador indiferente e bruto e a pobre apaixonada que implora atenção mesmo sabendo que será abandonada.

“Uma brisa ligeira alisava o cimo das árvores. A floresta molhada mudava a todo mo­mento de aspecto, conforme o sol brilhava ou se escondia”, nos diz Turguêniev, mostrando o outro lado da sua magnífica nação, que sempre vemos envolta na neve, na chuva, na ventania e no frio. Aqui, temos o esplendor da estação descrito por um mestre, que nos introduz o romance aparentemente bucólico como se houvesse uma traição á natureza, ou talvez, faça parte dela, pois se trata de paixão e crueldade, elementos recorrentes na vida natural. O importante é a força da narrativa, a originalidade do enfoque, que trabalha num território muito explorado, que é a descrição da paisagem.

Não são os temas escolhidos que fazem a diferença, mas sim o que você faz com eles. É a sua pena que conta, seu talento, seu domínio de linguagem. Não se pode é se entregar a soluções batidas por falta de competência ou de conhecimento.

Difícil é achar a legítima manifestação do talento, que é uma soma de sabedoria, um conhecimento acumulado submerso que aflora num poema, conto ou romance. Em outra história do livro em questão, desta vez de autoria de Ko­rolenko, um guarda se apaixona pela estranha prisioneira que ele escolta até os confins da Sibéria. É tocante ver a mulher tossindo nos rigores do inverno russo e aquele amor que penetra o texto como um veneno tardio.

É disso que somos feitos: da transcendência conseguida pela arte da palavra. Glória aos grandes escritores e rigor contra os enganadores.


Fonte: BULA REVISTA

QUEM TEM MEDO DE DERRIDA? EU!


Tremam na base: acaba de sair no mundo anglo-saxônico a primeira biografia de Jacques Derrida, o ideólogo da desconstrução. Anotem aí: Derrida, A Biography, de Benoit Peeters (Polite Press, 640 pags. $ 25,00).

O biógrafo ralou: papeou com mais de 100 pessoas que conviveram com o biografado, contou com uma mãozinha da viúva de Derrida e passou a pente fino um ramalhete de cartas inéditas. Ironicamente, o livro anterior de Peeters é uma biografia de Hergé, o pai do Tintin.

(ALBERT CAMUS: COMO DERRIDA, TAMBÉM PIED-NOIR E ENGOLINDO PERUS)

Derrida nasceu na Argélia, então encaçapada pelos franceses. Seus pais eram descendentes dos judeus espanhóis que se refugiaram no norte da África durante a Inquisição. Em 1870, a comunidade judaica argelina recebeu a cidadania francesa (ao contrário da população muçulmana). Jacques veio ao mundo em 1930 e durante a adolescência queria ser craque de futebol, como outro pied-noir que batia um bolão, Albert Camus. O personagem que brota da biografia é vulnerável, sensível, dado a surtos de melancolia, neurótico, hipocondríaco e sempre à beira do suicídio. Uma alma atormentada e lírica. Mas também um obsessivo-compulsivo, maníaco pelo controle e monstruosamente arrogante. A maioria dos entrevistados evocou a aptidão de Derrida para falar sem parar durante horas a fio. Consta que era espirituoso e daria um bom stand-up comedian.

(DERRIDA: “O CHATO NÃO É SER HERMÉTICO, É SER GOSTOSO”)

Quando os nazistas ocuparam a França, os judeus argelinos foram privados da cidadania e Derrida acabou expulso da escola. Puxou o carro para Paris. Outra característica de Jacques: com aquele topete tipo Zé Bonitinho, foi um sedutor inveterado, da escala de um Georges Simenon (que proclamava ter comido 10 mil mulheres em 64 anos). Seu romance epistolar (The Post Card) é composto de cartas a uma amante anônima.
Aparentemente, o axioma doutrinário de Derrida era: pra quê simplificar se a gente pode complicar? O primeiro livro dele foi uma tradução de Husserl – o texto do formulador da Fenomenologia tinha 43 páginas; a introdução do tradutor, 170. Ah, que saudades da limpidez de um Montaigne. Aliás, o hermetismo gênero Derrida foi um dos alvos de um dos mais divertidos trambiques da história cultural do século 20.

(SOKAL: MATANDO A COBRA E MOSTRANDO O PAU)

Em novembro de 1994, Alan Sokal, professor de física da Universidade de New York, submete um artigo intitulado “Transgressing the Boundaries: towards a transformative hermeneutics of quantum gravity” à prestigiosa revista americana “Social Text”, baluarte dos “Cultural Studies” (feminismo, discurso do colonizador e o escambau – aquilo que Harold Bloom definiu como “a Escola do Ressentimento”). Em abril de 1995 o artigo ganha o imprimatur do comitê editorial, e foi publicado em abril de 1996, em uma edição especial inteiramente dedicada a refutar aqueles que acusavam os Estudos Culturais de panfletarismo estrábico.
Logo em seguida, na edição de maio/junho da revista “Língua Franca”, em um texto intitulado “Um físico faz experiências com estudos culturais”, a pegadinha é desmascarada pelo próprio autor. Sokal anuncia que seu ensaio não passava de um caminhão de besteirol e non-sequiturs, ainda que repleto de referências autênticas a proeminentes intelectuais como Lacan, Irigaray, Deleuze, Derrida, Kristeva, Serres, Latour, Lyotard, Aronowitz.

Amplamente explorado pela mídia internacional, o troço assumiu proporções de escândalo sísmico. Em outubro de 1997, Sokal e Bricmont (professor de física teórica da Universidade Católica de Louvain) publicam em francês o livro Impostures intellectueles (editado no Brasil pela Record, 1999), com chumbo grosso sobre “o abuso da ciência pelos filósofos pós-modernos”.
Boa parte da academia norte-americana já tinha arriado os quatro pneus por Derrida, naquela síndrome perversa que faz os americanos adorarem odiar os franceses (assim como os franceses amam detestar os EUA – vide Godard). Na Universidade da Califórnia, quando Derrida vendia seu peixe, reinava uma atmosfera quase teológica – os famosos “seminários” assumiam um sentido também sacerdotal.

(FOUCAULT: “DERRIDA É MANÉ!”)

Mesmo antes de Sokal, que demoliu a desconstrução, Derrida levou umas belas coronhadas. Uma delas foi infligida por um ex-professor dele, Michel Foucault (que nunca sabia se dava zero ou dez aos trabalhos do pupilo). Depois de algumas escaramuças conceituais, Foucault pegou pesado, cornetando que o Desconstrucionismo não passava de “uma pedagogia insignificante.”
E que diabo a desconstrução implodia? (Pigarro. É melhor tomarem uma aspirina antes das próximas frases.) Para Derrida, a linguagem diz sempre mais do que pensamos que diz. É que ela tem uma tendência a serrar o galho onde senta, e até mesmo a dar tiros em seu próprio pé. Assim, não existe nenhuma libertação final que desemboque numa utopia de claridade, transparência ou compreensão (vai ver que é por isso que os textos desconstrucionistas são tão turvos e herméticos). Nada de absolutos, nem sequer os absolutos caleidoscópicos do estruturalismo.

Em 1967 Derrida botou pra fora Grammatologie, considerada sua obra-prima. Acho que apenas uns gatos-pingados realmente leram esse livro irrespirável de cabo a rabo – o que não o impediu de descambar em ícone. Um ano mais tarde, um exemplar de Grammatologie deu o ar de sua graça no filme Le Gai Savoir, de Jean-Luc Godard.







(GODARD E “LE GAI SAVOIR”: DERRIDA A BORDO)


(EUGENIDES: “CUMA?”)

Sobre o que é o livro, afinal? Bem. Quando Madeleine, a heroína do romance The Marriage Plot, de Jeffrey Eugenides, faz essa pergunta a um CDF de sua faculdade, ouve a seguinte vociferação: “Se o livro é ‘sobre’ alguma coisa, é sobre a necessidade de parar de pensar que os livros são sobre alguma coisa.”
O argumento de Derrida é que, de Platão a Lévi-Strauss, o pensamento ocidental se enredou irremediavelmente na ilusão de que a linguagem pode fornecer um acesso a uma realidade para além da própria linguagem – uma experiência não-mediatizada de verdade e do ser, que ele chamava sarcasticamente de “presença”. Mesmo Heidegger, um crítico encarniçado da metafísica, teria sucumbido a tal miragem. E essa fantasmagoria, sempre segundo nosso frère Jacques, foi o corolário da longa saga do “logocentrismo” – o privilégio do “mundo articulado e verbalizado” enquanto tabernáculo da “presença”. Enquanto isso, o “texto” era chutado para escanteio como um “apêndice perigoso”, alienado da voz, parasitário e até equívoco. Derrida, pelo contrário, entroniza o “texto”, erigindo-o em fetiche.
Já manjaram, né? A desconstrução é a física quântica da filosofia. Assim como o gato de Schrodinger está ao mesmo tempo morto e vivo, segundo ela também a botica platônica é remédio e veneno. Significados encontram-se sobrepostos numa aporia – não “ou” e “ou”, mas “e” e “e”. Ser e não ser. Derrida não foi o primeiro a refletir sobre tais questões. Elas já tinham sido dissecadas por dois filósofos tão distantes no tempo quanto David Hume e Wittgenstein, por exemplo.

Cáspite, não façam essa cara de pum! Tentei explicar o melhor pude, o que não é nada canja. Tomemos a proposição: “O porco merece seu nome, já que é um animal muito pouco asseado.” O que nos encafifa nela? É a suposição de que a palavra “porco” já exprime a essência da falta de limpeza. Na verdade, porém, é completamente arbitrária, e nada nela exprime a essência de algo porco. Um porco não se chama porco por a palavra exprimir de forma adequada o que é a essência desse animal, mas para que não o confundamos com as palavras “porto” ou “pouco”.
Os exemplos de Derrida vêm do Alemão, em que o nome do cisne (Schwan) se assemelha ao do porco (Schwein). Daí deduz que nada, em princípio, impediria que a ave branca e pescoçuda fosse designada por “porco”, e o animal enlameado por “cisne”. Portanto, poderíamos falar de “O Lago dos Porcos”, ou “Leda e o Porco”, ou ainda do “Porco de Avon”.
Eis o que mais me intriga: como uma teoria que canoniza o “texto”, pode lidar com este de um modo tão burocrático, descafeinado e maquinal. Aqui, o prazer do texto e da semântica são os últimos que falam e os primeiros que apanham. Vai entender.
No modismo lítero-universitário, o arrazoado de Derrida ganhou no grito e apeou Adorno. Uma coisa a gente tem de reconhecer: se Derrida não é mais complexo que Adorno, é muito mais complicado. O que, desde a querela dos universais, cai muito bem entre os escolásticos. Pelo amor de Deus, sai uma navalha de Ockham no capricho!
(ESTE POST É DEDICADO AO MEU CHAPA CARLOS BALISTA)


Carta escrita por Kafka revela fobias do escritor

Escritor Franz Kafka com a irmã, Ottla
em uma praça no centro histórico de Praga,
na atual República Checa
Uma carta de quatro páginas que o escritor Franz Kafka (1883-1924) escreveu em 1917 e em que confessa, entre outras fobias, seu pavor de ratos, foi arrematada em leilão na Alemanha por uma quantia não especificada.

A carta, enviada ao amigo Max Brod com selo do dia 4 de dezembro, esteve durante décadas na mão de colecionadores particulares, mas o Arquivo Literário Alemão, com sede na cidade de Marbach, no sul do país, pretende exibí-la a partir de abril de 2013.

O objeto deverá ser a estrela da exposição “Os Ratos de Kafka”, que vai reunir manuscritos do famoso escritor.

Segundo fonte do Arquivo Literário Alemão, a carta foi à leilão com o preço mínimo de € 42 mil (cerca de R$ 113 mil).


EELLIP - Dica de Leitura!

Nessa seção, seguem algumas dicas de leitura de textos recentes acerca de Guimarães Rosa. As atualizações serão feitas diariamente, visando ao contato dos interessados com novas perspectivas interpretativas para o estudo da obra rosiana.

Este ensaio analisa a presença e a persistência de certa tradição regionalista nas letras brasileiras, traçando ligações metodológicas do aporte teórico oriundo das investigações sobre imaginário e memória coletiva com aquele consolidado por parte da crítica literária nacional. Busca-se evidenciar de que maneira as aproximações à obra de arte e os julgamentos de valor produzidos veicularam imagens aceitas e apreendidas na memória coletiva, as quais se tornaram, não raras vezes, índices determinantes de leitura, solapando a legitimação do regionalismo.

***

This essay analyzes the presence and the persistence of a regionalist tradition in the Brazilian literature, drawing methodological connections between theoretical contributions from the studies on imaginary and collective memory and the ones consolidated by part of the national literary criticism. This paper intends to throw light on how the approach to the work of art and its judgment conveyed images that were accepted and apprehended by the collective memory, often becoming determining guidelines for reading, which undermined the legitimization of regionalism.

Para conferir o artigo de André Pelinser na íntegra, originalmente publicado na revista Crítica Cultural, clique aqui.


Referência: PELINSER, André Tessaro. Crítica literária: memórias e imagens do regionalismo literário brasileiro. Crítica Cultural, Palhoça, v. 7, n. 2, p. 230-241, jul./dez. 2012.

Tchello d'Barros expõe série de fotografias em P&B


O artista visual Tchello d’Barros abre a exposição de fotografias “Crônicas de Rua”, no Hall Benedicto Monteiro, no térreo do Centur. A mostra apresenta uma seleção de 30 fotografias em P&B que o autor desenvolve há cinco anos, em suas viagens Brasil afora, na tradição da chamada Fotografia-de-Rua, ou Street Photography. As imagens monocromáticas questionam com instantes e flagrantes de situações inusitadas as relações do homem contemporâneo com o espaço urbano.  

Segundo o curador da exposição, Lenon Rodrigues, “para  Tchello d’Barros, a escolha da linguagem da Fotografia-de-Rua vai além de suas referências visuais, como as gravuras de Escher, o Cinema Noir ou o Realismo Fantástico: essa opção pelo P&B representa uma possibilidade de anulação do tempo cronológico, e mais, uma interpretação muito pessoal do mundo que nos cerca, de nosso entorno cotidiano, que nesses tempos de vertiginosa vivência digital, ainda chamamos de realidade.

“Crônicas de Rua” , que tem a curadoria de Lenon Rodrigues e a produção cultural de Renato Gusmão, será aberta nesta terça, dia 11 de dezembro, às 19h e pode ser visitada até 01 de fevereiro de 2013 (confira os horários abaixo)

Segundo Tchello de Barros, “esta série fotográfica tem sido um exercício solitário e paciente de observação de como a vida flui – ou deixa de fluir às vezes – nos diversos ambientes públicos de nossas cidades. São encontros e desencontros em avenidas e vielas, são situações as mais diversas em praças, portos, estações de trem, espaços culturais, praias e qualquer lugar onde se possa sacar rapidamente uma câmera e congelar alguma ação inusitada. São flagrantes descompromissados, sem qualquer pretensão de gerar alguma reflexão ou qualquer  epifania de ocasião.

Serviço
“Crônicas de Rua” – fotografias de Tchello d’Barros

Abertura: 11 de dezembro – terça
Hora: 19h    
Visitação: até 01 de fevereiro de 2013
Horário: seg. à sex – 08h30 às 19h 
sábado – 08h30 às 12h

Local: Hall Benedicto Monteiro - Centur
End.: Av. Gentil Bittencourt, 650

Informações: (91) 8288.9103
Entrada Franca


Fonte: GUIART

Forfun participa do Studio62 com Tropicália Digital

A banda carioca Forfun tem pouco mais de 10 anos de atividade e já lançou três discos de estúdio, mais DVDs e até documentário. No próximo dia 20 de dezembro, eles gravarão no Rio mais um DVD, que será realizado pela Okent Films. Antes disso, deram um pulo no estúdio do Rafael Kent e tocaram “Tropicália Digital” daquele jeito que vocês já estão reconhecendo.



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Fonte: CARACTAGS

Preços e descontos especiais neste Natal | Revista UNESP virtual


Projeto UFPA 2.0 recebe trabalhos para publicar em Blog


Em funcionamento desde outubro de 2012, sob a coordenação do professor Flávio Nassar, pró-reitor de Relações Internacionais , o Projeto UFPA 2.0 tem como objetivo principal montar uma rede interativa que armazene e divulgue as produções acadêmicas da Universidade, a partir das chamadas Tecnologias da Informação e Comunicação (TICs). Para isso, o Projeto visa englobar as mais diversas produções, do artístico ao científico, provenientes dos projetos de pesquisa, extensão ou das salas de aula, tanto da graduação como da pós-graduação.

O Projeto foi batizado com esse nome porque toma como base o conceito de “Web 2.0”, cunhado por Tim O’Reilly, e diz respeito ao novo cenário em que as tecnologias da informação se situam: não apenas à de consumo, mas também à de produção de informação por usuários e desenvolvedores. Essa nova realidade 2.0 proporcionaria uma maior interação e participação com, e entre, o público da Web.

Em virtude dessas mudanças tecnológicas informacionais, começou a se observar a necessidade de se desenvolver ferramentas que possibilitassem a inserção da Universidade nesse novo cenário, visando principalmente melhorar a gestão, a integração institucional e a interação com os seus diversos públicos por meio das TICs. Por isso, o Projeto UFPA 2.0 conta com ferramentas na web, como o blog - que serve de plataforma para que as pessoas postem os seus trabalhos –, além de perfis nas redes sociais, como o Facebook e o Twitter.

O UFPA 2.0 visa promover também ações que facilitem ou até mesmo possibilitem a acessibilidade das pessoas a essas novas tecnologias da informação e ao conteúdo disponibilizado por meio da internet. Exemplos disso são: a instalação da rede de internet sem fio (Wi-Fi), cobrindo todo o campus – instalado primeiramente nos campi de Belém e de Castanhal e, em breve, nos demais –; e a abertura de infocentros internos e externos ao campus, o que beneficiaria também as comunidades localizadas ao seu entorno.

Mas para que essa tão almejada interação entre público e universidade se concretize, é necessário que a adesão do público ao Projeto exista. O Projeto está recebendo trabalhos para serem publicados no blog do UFPA 2.0 e aguardando os usuários para interagirem e integrarem suas redes sociais. A meta do Projeto é elaboração de um Portal para disponibilizar todos os conteúdos produzidos pela UFPA, tornando-se, assim, uma importante ferramenta de busca.

Serviço

Blog: www.ufpadoispontozero.wordpress.com 
Email: ufpadoispontozero@gmail.com
Facebook: Ufpa Doispontozero 
Twitter: @Ufpa2ponto0

Texto: Gean Costa – Ascom UFPA 2.0
Foto: Laís Teixeira


Fonte: PORTAL UFPA