segunda-feira, 28 de janeiro de 2013

DE UMA ARTE QUE IMITA A VIDA PARA UMA ARTE QUE CRITICA A VIDA


Conheça a obra do artista de rua que ganhou a alcunha de "Baknsy francês"



A arte imita a vida. A arte de rua, por sua vez, critica a vida. Pelo menos é o que se pode dizer com base nos trabalhos do francês Dran, que, devido a sua mistura entre humor negro e crítica social, ganhou a alcunha de “Banksy francês”.

Apesar de traços diferentes, Dran e o suposto inglês Banksy, apresentam visões parecidas e as expressam de maneira provocativa. Entre os temas tratados estão o casamento, a liberdade de expressão, a especulação imobiliária, a opressãoe a (falta de) cultura da sociedade contemporânea.

Seja usando a imagem das crianças para ilustrar a opressão à criatividade, tornando clara a falta de conexão entre os casais modernos, ou explicitando as discrepâncias sociais globais, o certo é que Dran usa sua arte para criticar a vida, fazendo com que as pessoas que a contemplem soltem uma risada sem graça, seguida de culpa.

Confira abaixo uma galeria com alguns trabalhos do artista.




Fonte: Catraca Livre

Um filme que reflete sobre a passagem do tempo, a mortalidade, os sentidos e o amor — e busca materializar essas reflexões em sua forma



'Toda a primeira hora do filme transcorre sob o ponto de vista dos anjos, sem qualquer tentativa de eixo narrativo' [na foto, Gamiel]


Wim Wenders sempre foi um cineasta interessado em examinar os limites e as estruturas de sua arte. Em 1982, Wenders alugou o quarto 666 de um hotel em Cannes e ouviu Godard, Antonioni, Herzog e Fassbinder refletirem sobre o futuro do cinema durante o advento do vídeo. No mesmo ano, o diretor filmou O Estado das Coisas um filme sobre as impossibilidades do cinema e sua escravidão do suporte físico, e três anos depois foi para Tóquio em busca do cinema de Yasujiru Ozu, no poético Tokyo-Ga.


Finalmente, em 1987, Wenders pareceu materializar toda sua reflexão em um longa que se tornou sua obra prima e um dos maiores exemplos de como a forma de um filme expressa seu conteúdo.

Asas do Desejo acompanha Damiel e Cassiel, dois anjos que vagam pela Berlim Ocidental, provendo conforto e alento, vigiando os humanos, sem nunca chegarem perto demais. Para os dois anjos a humanidade é um conjunto fabuloso e enorme de individualidades que eles nunca chegam a conhecer.

O filme se inicia justamente com diversas vozes se sobrepondo, enquanto a câmera passeia por um prédio de apartamentos. Ouvimos os pensamentos dos moradores, trivialidades como os remédios a tomar, questões universais como amores perdidos e temas profundos como a morte. Cada apartamento possui seu próprio drama e vamos passando de um para outro, mudando sempre antes que alguma história se torne particularmente interessante. A polifonia angustiante, que se transforma em uma massa indistinta de sons e o movimento fluído da câmera recriam aquilo que os anjos veriam. Desde o primeiro plano do filme Wim Wenders deixa claro que se trata capturar sensações.

Toda a primeira hora do filme transcorre sob o ponto de vista dos anjos, sem qualquer tentativa de eixo narrativo. Vemos moradores da cidade, ouvimos suas angústias, vemos Damiel e Cassiel conversarem e caminharem juntos, alheios ao mundo e ao tempo. Absorvemos Berlim da mesma forma que os anjos, vemos e sentimos o que eles devem ver e sentir. 




'A humanidade não é uma escolha óbvia: ele ganha o toque, o amor, o gosto das coisas e as cores, mas também a dor, o sofrimento, as angústias e a morte'


No entanto, Damiel se apaixona por uma trapezista. Fascinado, ele a segue em seu camarim, nas ruas, nas apresentações. Se antes toda a humanidade era um conjunto de seres indiferenciáveis e incompreensíveis, agora, a partir de seu apego a uma mulher, Damiel passa a se questionar como seria poder sentir, tocar, ver cores, ter medo do tempo que passa.

O tempo, a mortalidade, talvez sejam os temas centrais de Asas do Desejo. Ao optar ser humano Damiel opta por ser mortal. A humanidade não é uma escolha óbvia: ele ganha o toque, o amor, o gosto das coisas e as cores, mas também a dor, o sofrimento, as angústias e a morte. Durante todo o filme Cassiel recita a “Canção da Infância”, poema escrito por Peter Handke (poeta modernista alemão e colaborador frequente de Wim Wenders) que diz “quando a criança era uma criança, ela não sabia que era uma criança, tudo era alma e todas as almas eram uma”. Tornar-se humano, seja ao crescer ou cair, significa dar as coisas seu nome certo, entender sua função e lugar e perder a possibilidade de que “tudo seja alma”.

O poema segue, perguntando “por que eu sou eu e não você?/ Por que estou aqui e não lá?/Onde começa o Tempo e onde termina o Espaço?/A vida sob o sol não é apenas um sonho?” Ou seja, o que são os sentidos? O que é isso que orienta a vida humana? O que Damiel ganhará quando fizer sua queda em busca do amor pela trapezista?

A resposta vem na forma de um outro anjo caído: ganha-se café e cigarros. A possibilidade de sentir, de passar frio, de não ter dinheiro. Não é uma escolha óbvia, mas é a escolha que seduz Damiel, fascinado pela concretude humana, tão oposta a sua absoluta liberdade de anjo.

'Tornar-se humano significa dar as coisas seu nome certo, entender sua função e lugar e perder a possibilidade de que 'tudo seja alma'' [na foto, Cassiel]


Quando Damiel cai o filme se torna colorido porque ele passa a ver o mundo em colorido. O espectador entende o abismo de diferença entre o que ele era e o que ele é agora. Antes a fotografia era certamente mais bonita, mesmo os cantos mais sórdidos de Berlim pareciam poéticos, dramáticos, belos, agora o que vemos é uma cidade suja e decaída. Ainda assim, há algo de irresistível na cor, algo que impediu que o cinema voltasse atrás uma vez que o adotou: há algo de concreto, de real, de vivaz nas cores que o preto e branco exclui. Talvez Berlim tenha se tornado mais feia para Damiel, mas o espectador certamente sente junto com o anjo o encanto que se ganhou ali.

Asas do Desejo foi diversas vezes descrito como o romance entre um anjo caído e uma trapezista. Não é. É um filme que reflete sobre a passagem do tempo, a mortalidade, os sentidos e o amor — e busca materializar essas reflexões em sua forma. Em certa medida ele alcança esse objetivo, tornou-se um dos filmes mais difíceis da história do cinema, mas também um dos mais belos e mais únicos. 




Crítica de filme - Dogville

“DOGVILLE” E A MORTE DO HUMANISMO


“Dogville” é a crítica mais radical da sociedade burguesa já vista no cinema recente, superando até mesmo “Clube da luta”, de 1998. Esteticamente mais ousado e tematicamente mais abrangente, o filme de Lars von Trier é um manifesto de falta de fé na humanidade. Expõe de maneira conseqüente e articulada um resumo de todas as misérias humanas e as razões de todos os nossos fracassos. Em “Dogville” não é apenas a sociedade burguesa estadunidense que fracassa, mas o iluminismo, o humanismo, a religião, toda a experiência humana, enfim. Não fica pedra sobre pedra.

A primeira vítima são as convenções estéticas da narrativa cinematográfica. “Dogville” não é propriamente cinema. É teatro filmado. A ação se passa sobre um piso negro em que as riscas de giz representam as paredes das casas. Os atores fingem abrir portas e janelas. Alguns móveis, árvores, carros completam o cenário. Nomes riscados no chão indicam o nome do proprietário da casa em quem estamos. Essa ousadia estética mostra o quanto o cinema pode ser simples e eficiente, desde que feito com inteligência. Lars von Trier foi um dos signatários do movimento “Dogma” (uma versão dinamarquesa do “uma idéia na cabeça e uma câmera na mão” do nosso Cinema Novo dos anos 1960). O Dogma fez bastante sucesso no circuito europeu de festivais a partir de meados da década de 1990 e Lars von Trier acabou provando ser o seu mais competente adepto.


O teatro de “Dogville” situa-se nos Estados Unidos em plena década de 1930, com a miséria da Depressão e a violência dos gângsteres. Mas poderia situar-se em qualquer cenário e em qualquer época. A escolha dos Estados Unidos apenas a torna mais familiar e acessível. O público internacional de cinema está bastante familiarizado com as instituições e a cultura típicas de uma cidadezinha estadunidense, portanto se localiza mais facilmente nesse cenário. A pequena cidade de Dogville é igual a toda pequena cidade do país. Não há horizontes nessa cidade. Não se vê o que há além dela. Não se vê o final da estrada, a cidade vizinha, a paisagem circundante, as montanhas ao redor. Não foi preciso se dar ao trabalho de pintar figuras da paisagem exterior no cenário.

Não foi preciso porque nenhuma cidadezinha estadunidense realmente se preocupa com o mundo exterior. A reação de perplexidade do povo estadunidense diante do 11 de setembro mostrou o quanto este povo não compreende o mundo exterior e o que seu país representa nele. Para eles, o resto do mundo é uma imitação mal-feita de seu país. Os habitantes de todas as Dogville estadunidenses estão presos ao seu mundo provinciano e limitado. Presos ao universo de sua “comunidade”. O universo mesquinho das fofocas, das invejas, dos preconceitos. O julgamento de “Dogville” se abate sobre toda a humanidade, mas não se trata de um julgamento abstrato. O réu são os pequenos grupos, bastante concretos e palpáveis, as famílias e vizinhos, pessoas relacionadas pela proximidade do trabalho e da convivência. Trata-se de uma cidadezinha, como poderia ser uma vizinhança de uma grande cidade, um bairro, etc.

O filme se estrutura em capítulos, ou seja, em atos, como numa peça de teatro. A divisão em capítulos parece também uma alusão à divisão da Bíblia em livros. Os atos da peça são precedidos de um prólogo, no qual os personagens são apresentados. Dogville parece uma cidadezinha comum, mas tem o seu intelectual, o aspirante a filósofo e escritor Tom (Paul Bettany). Tom é o motor da vida social de Dogville. É ele que promove reuniões na capela da cidade, tentando motivar seus habitantes a se melhorarem moralmente. É ele que visita todos os habitantes, tentando levar alguma luz à suas vidas. Todo o filme é de certa forma uma experiência de Tom. Uma experiência iluminista de reforma moral da sociedade.

Tom quer reformar a sociedade de Dogville levando-lhes a verdade. Grace (Nicole Kidman) surge na história para ajudá-lo a provar sua tese. Tom insistia em que as pessoas não eram verdadeiramente boas e altruístas para ajudar alguém. Então surge uma mulher misteriosa, perseguida por gangsteres, precisando de ajuda. Tom desafia a cidade a acolhê-la. Para não admitir que Tom tem razão em suas censuras, Dogville aceita a mulher misteriosa. Manter as aparências é fundamental. Todos precisam fingir que são nobres e respeitáveis, quando na verdade escondem em si as piores perversões e uma capacidade infinita para a crueldade.

Grace acaba sendo aceita, a título provisório, mas insiste em que deve retribuir de alguma forma pela proteção que os habitantes de Dogville lhe darão. Grace começa a trabalhar diariamente para todos os habitantes da cidade para mostrar que é uma boa pessoa e provar que merece ficar. Passado o prazo inicial de duas semanas, Grace é autorizada a ficar. Os habitantes de Dogville se afeiçoam a ela. Descobrem que seus préstimos são bastante úteis. Tornam-se seus amigos. O romance entre ela e Tom, que no entanto não chega a se consumar, acaba sendo o desenvolvimento mais natural da situação.

Os problemas surgem quando aparece a polícia para lembrar que Grace continua sendo procurada. Esse é o teste dos habitantes de Dogville. Apesar de conviverem com Grace, não conseguem mais deixar de desconfiar dela. Esse é o trecho do filme mais especificamente relacionado ao farisaísmo estadunidense. O povo de Dogville não consegue reconhecer a inocência e a bondade de Grace, por mais que esteja ali diante de seus olhos. Preferem acreditar no que diz o sistema. A polícia, comprada pelos poderosos, espalha cartazes de Grace como procurada por assaltos.

O povo de Dogville tem a prova de que Grace é inocente, pois estava convivendo com ela quando os assaltos que lhe foram imputados foram cometidos. Mas essa prova não basta para acalmar suas consciências. Detectamos aqui um traço típico da obediência orwelliana a um sistema de poder opressor e injusto, porém eficientemente interiorizado. É preciso sobretudo estar de bem com a lei. Se a lei diz que Grace é perigosa, ela se torna perigosa. Por mais que se trate da adorável e pura Grace que todos conhecem. O amor pela verdade, pela beleza e pela bondade se desvanece facilmente diante do medo do julgamento público. Ninguém tem coragem de defender Grace, pois não tem coragem suficiente para viver uma vida autêntica. Dogville continua mantendo Grace a salvo de seus perseguidores. Mas o preço para ela em trabalho e sofrimento se torna cada vez mais alto.

Toda a trama do filme é cuidadosamente montada para mostrar que Dogville não merece o presente (Grace=graça) que lhe foi dado. De acolhedores e altruístas que eram, os habitantes se tornam cruéis, tirânicos, pervertidos. Até mesmo as crianças. A forma como transitam do acolhimento amistoso para o abuso sexual é bastante natural e conseqüente no contexto do filme e perfeitamente representativo do comportamento concreto do homem. A experiência pedagógica iluminista de Tom fracassa miseravelmente.

Tom aparece como o herói, uma espécie de alter-ego do diretor e do espectador. É sobre ele que carregamos nossas expectativas humanistas e bem-pensantes de que o bem possa triunfar no filme. Tom acredita em exemplificação como forma de convencer as pessoas. O exemplo de “Dogville” acabará sendo mais contundente do que aparentava, pois como em todo teatro brechtiano, acabará atingindo o espectador.

Tom não tem propriamente uma profissão. Ele depende da pensão de seu pai, o que acabará sendo crucial para o andamento da história. O intelectual, na sociedade burguesa, por mais que seja radicalmente contra o sistema, não consegue romper integralmente com ele, pois dele depende sua subsistência material. Sua fidelidade estará com aqueles que lhe proverem estabilidade, por mais sincero que pareça ser seu amor pela verdade. Ou seja, também Tom acabará traindo Grace. A delação da jovem aos gangsteres que a perseguiam é o atestado final de falência do amor e da honestidade.

Walter Benjamin dizia que o intelectual é o inimigo natural da condição pequeno-burguesa, pois deve combatê-la diariamente dentro de si mesmo. Entretanto, a História mostra que houve mais derrotas do que vitórias nessa luta. O fracasso de Tom em “Dogville” representa o fracasso de todo intelectual na sociedade burguesa. O intelectual se mostra, no final, incapaz de se solidarizar concretamente com os perseguidos, os humilhados, ofendidos e explorados.

Grace representa todas essas classes, todos os sofredores, os excluídos do sistema. As mulheres oprimidas pelo machismo, as crianças oprimidas pela educação, os estrangeiros oprimidos pela xenofobia, etc. Ela encarna todos os sofredores, justamente porque encarna o trabalhador. O trabalho é o elemento constitutivo essencial de toda sociedade. Não se vive sem trabalho. Ele é a primeira de todas as necessidades. A comunidade de Dogville aparentemente não precisava de Grace, como a sociedade humana aparentemente não precisava da Revolução Industrial que criou o proletariado moderno. Mas depois que o trabalho assalariado foi criado, não se pode mais viver sem ele. O que não significa que seja valorizado. Antes, pelo contrário, o trabalhador, como Grace, é cada vez mais explorado, humilhado e maltratado.

O trabalhador é o cimento invisível da sociedade. Não se pode viver sem ele, mas ao mesmo tempo todos o odeiam. O odeiam porque ele nunca parece dar conta do que se precisa. Odeiam porque ele é diferente. Odeiam porque ele vem de fora. Odeiam porque ele carrega consigo todas as precariedades, todas as fragilidades, todos os pecados. Um bode expiatório que é também o burro de carga e a válvula de escape das tensões, inclusive sexuais. O trabalhador, na interpretação de Marx, é a classe revolucionária por excelência justamente porque apenas a sua libertação pode libertar toda a sociedade da condição abjeta do trabalho explorado.

Mas essa leitura é apenas um dos níveis subliminares de “Dogville”. Como dissemos, trata-se de uma condenação de toda sociedade de classe, que apenas contingentemente se articula a partir da sociedade burguesa estadunidense. A condenação se estende a toda a civilização ocidental, na qual já existe, antes do trabalhador assalariado moderno, um símbolo universal da redenção, que foi Cristo. Jesus foi aquele cujo sacrifício teria redimido os pecados da humanidade, por provar que Deus nos ama.

Grace evidentemente representa Cristo (o comentário do companheiro Sergio Domingues emwww.midiavigiada.kit.net me abriu os olhos para essa interpretação). “Dogville” não deixa de ser uma resposta à pergunta de todos os crentes religiosos: o que aconteceria se Cristo voltasse a viver entre nós? Provavelmente, aconteceria o que aconteceu com Grace: seria explorado, humilhado e maltratado até o limite, para ser finalmente entregue à morte. Grace, como dissemos, foi delatada por Tom aos gangsteres que a perseguiam.

Mas, para surpresa geral, o gangster é seu pai. O gangster-mor é Deus. O diálogo de Grace com seu pai é o diálogo de Cristo com um Deus nietzscheano. Deus censura Cristo por sua arrogância. Cristo (Grace) se atreve a ser bom e puro e querer perdoar os homens apesar de toda a maldade que lhe fizeram. Esse Cristo sempre misericordioso se coloca assim num nível moral muito superior a toda a humanidade e isso parece ser inaceitável para Deus. Ou se julgam todos pelo mesmo padrão ou não haverá justiça. Os homens falharam com Grace e devem ser julgados pelo que fizeram.

E eis que Grace acata seu pai e resolve julgar Dogville. Ela dá à cidade o que merece. A exemplificação pretendida por Tom finalmente atinge o espectador, como antecipamos. A sentença que Grace aplica a Dogville é a mesma que nós espectadores proferimos entredentes ao longo do filme. Ela realiza nosso desejo, ordenando a destruição da cidade. De maneira mais uma vez desconcertante, a heroína de pureza e santidade realiza o inverso do que se esperava, porque realiza nosso desejo de vingança inconfessável.

O massacre moral a que Grace é submetida nos faz desejar, revoltados, indignados, cheios de santa ira, que Dogville seja destruída. Somos forçados a concordar que o mundo somente terá conserto quando todas as Dogville que o povoam forem destruídas. E ao desejarmos isso, “Dogville”, o filme, triunfa sobre nós, pois mostra como nosso humanismo se desfaz facilmente em ódio bárbaro.

Deus é um gângster que dispõe da vida e da morte das pessoas, como se fossem cães. No mundo sem transcendência de Dogville, o único sobrevivente é o cão Moisés. O cão é o último homem, o herdeiro da barbárie, que se limita a latir para o alto, raivoso.



Daniel M. Delfino