segunda-feira, 17 de dezembro de 2012

Ebook: Diálogo de Escritores Latinoamericanos


Gracias al apoyo de la Editorial Teseo, compartimos este libro digital que registra las conversaciones tan ricas y fructíferas que marcaron el primer Diálogo de Escritores Latinoamericanos.

América Latina es un concepto que nombra un territorio amplísimo que se extiende desde la frontera norte de México hasta el último extremo de Tierra del Fuego: es difícil pensar que pueda tener una literatura en común. Pero así se la concibe en manuales, catálogos e, incluso, en los estantes de bibliotecas y librerías. En el 2012, pusimos en marcha los primeros Diálogos de Escritores Latinoamericanos, con el objetivo de darle a esta literatura el lugar relevante que merece y, sobre todo, estimular un intercambio vivaz que permita entender mejor de qué estamos hablando.

En este libro se transcriben todas las mesas que tuvieron lugar en el marco del Diálogo: más de cuarenta escritores de once países, analizando temas tan dispares como paisajes, políticas, siestas y nuevas tecnologías. El resultado: conversaciones nutridas que pasan revista a una larga lista de autores y textos imperdibles. Una compilación para pensar, disfrutar y sembrar las ganas del próximo encuentro.

Participaron de las mesas: Leandro Ávalos Blacha, Gabriela Bejerman, Álvaro Bisama (Chile), Félix Bruzzone, Fernando Canedo (Bolivia), Esteban Castromán, Verónica Chiaravalli, Oliverio Coelho, Marcelo Cohen, Jorge Consiglio, Carlos Cortés (Costa Rica), Alejandra Costamagna (Chile), Washington Cucurto, Josefina Delgado, Claudina Domingo (México), Oscar Fariña (Paraguay), Silvina Friera, Tomás González (Colombia), Rafael Gumucio (Chile), Iosi Havilio, Andrés Hax, Laura Isola, Paulette Jonguitud Acosta (México), Anna Kazumi Stahl, Martín Kohan, Eduardo Lalo (Puerto Rico), Daniel Link, Ercole Lissardi (Uruguay), Josefina Ludmer, Lina Meruane (Chile), Luis Mey, Mónica Nepote (México), Guadalupe Nettel (México), Claudia Piñeiro, Cynthia Rimsky (Chile), Ricardo Romero, Hernán Ronsino, Ariel Schettini, Pablo Soler Frost (México), Gabriela Torres Olivares (México), Carlos Vallejo Moncayo (Ecuador), Hernán Vanoli, Irene Vilar (Puerto Rico), Alejandro Zambra (Chile) y Patricio Zunini.


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Entrevista: Luta contra o preconceito linguístico


por Walter Pinto / Novembro e Dezembro 2012
foto Alexandre Moraes


Escritor, poeta e tradutor, Marcos Bagno, professor da Universidade de Brasília (UnB), vem se destacando na defesa da democratização das relações linguísticas no Brasil. Suas posições polêmicas são confundidas como espécie de “vale-tudo” pelos críticos, aos quais chama de “puristas” por defenderem a “pureza” da língua contra todas as formas inovadoras. Em entrevista ao Beira do Rio, concedida durante o II Congreso Internacional de Dialetologia e Sociolinguística (Cids), realizado na Universidade Federal do Pará (UFPA), de 24 a 27 de setembro deste ano, Bagno mostra que a língua que falamos é resultado de 500 anos de invasão portuguesa, do massacre sistemático dos povos indígenas, do sequestro e escravização de africanos.

Beira do Rio – Existe, de fato, um preconceito linguístico no Brasil? Como ele acontece?

Marcos Bagno – Sim, existe. Ele faz parte do conjunto de preconceitos que circulam na nossa sociedade: o racismo, o sexismo, a misoginia, a homofobia, o desprezo pelos pobres etc. O preconceito linguístico é resultante do tipo de formação histórica da nossa sociedade, uma sociedade colonizada, em que tudo o que é considerado bom vem de fora, nunca é o que temos de autenticamente nosso. Daí a ideia, absurda, de que nós, brasileiros, não sabemos falar a nossa língua, porque, afinal, ela se chama “português” e, sendo assim, só um povo chamado “português” poderia falar bem a língua, já que há coincidência de nome entre povo e língua. Isso é um absurdo sob todos os pontos de vista.

Beira do Rio – O subtítulo de seu livro “Não é errado falar assim!” é “em defesa do português brasileiro”. O que é o português brasileiro?

Marcos Bagno – É a língua materna da imensa maioria dos cidadãos deste país. Uma língua falada por quase 200 milhões de pessoas, o que faz dela a 3a língua mais falada no Ocidente, depois do espanhol e do inglês. É a língua que se formou em nosso território depois de 500 anos de invasão portuguesa, do massacre sistemático dos povos indígenas e do sequestro e escravização de africanos. É uma língua resultante de todos esses processos históricos, que não podem ser negados em favor de uma suposta “língua portuguesa” única, mítica e “pura”, que não existe nem jamais existiu.

Beira do Rio – Quais os erros dos professores de língua portuguesa que seguem a doutrina gramatical normativa-prescritiva?

Marcos Bagno – O erro único e central é justamente seguir essa doutrina. A gramática normativa (essa que ainda se pretende ensinar nas escolas) é uma doutrina ultrapassada, remonta ao século III a.C. Suas definições, seus termos, seus conceitos já foram criticados, revistos e até abandonados em grande parte pelas correntes das ciências da linguagem desde o século XIX. No entanto, por mera subserviência a uma tradição que, no fundo, é uma ideologia conservadora, as pessoas insistem em querer aprender e ensinar algo que não serve, rigorosamente, para nada. Por exemplo, os autores de livros didáticos, até hoje, insistem em dizer que as palavras “se flexionam em gênero, número e grau”, embora a investigação teórica consistente já tenha provado, há bastante tempo, que não existe “flexão” de grau, mas sim derivação, que é coisa bem diferente. Ainda se insiste em dizer que existe uma “3a pessoa do discurso”, quando é óbvio que ela não existe: o discurso se dá sempre entre EU e TU; a chamada “3a pessoa” não participa do discurso, ela é o assunto, aquilo sobre o que se fala. Por que condenar o advérbio “meia” (Como em “ela está meia cansada hoje”), se ele tem sido empregado há 500 anos por nossos melhores autores, desde Camões até Machado de Assis, e se é assim que os 200 milhões de brasileiros falam no dia a dia? O ensino sempre se pautou por um ideal de língua que parece ter medo ou nojo da língua falada pelas pessoas em geral, da língua viva, dinâmica, que varia no espaço e muda com o tempo.

Beira do Rio – Afinal, qual é o objetivo do ensino de língua portuguesa nas salas de aula?

Marcos Bagno – É promover o letramento ininterrupto de seus alunos. Letramento é um termo importantíssimo, hoje, na educação e na pesquisa linguística. Significa levar uma pessoa a se apoderar da leitura e da escrita e se tornar o mais competente possível nessas habilidades. Para isso, ninguém precisa saber o que é uma “oração subordinada substantiva objetiva direta reduzida de infinitivo”. É preciso ler e escrever, reler e reescrever, re-reler e re-reescrever sem parar. Automaticamente, no processo de letramento, as regras de funcionamento da língua são adquiridas e interiorizadas, sem necessidade de decoreba de nomenclatura nem de análise sintático-morfológica.

Beira do Rio – O senhor é um crítico dos professores de língua portuguesa que estão na mídia ensinando o que é certo e o que é errado. Explique o que há de errado com eles?

Marcos Bagno – Tudo. O que eles dizem não tem fundamentação científica alguma. Eles se apoiam, exclusivamente, na tradição gramatical normativa e num modelo arcaico de “língua certa” que não corresponde, há mais de 100 anos, nem sequer à escrita literária consagrada. Além disso, fazem muita confusão com os termos que empregam. Esse modelo de língua “certa”, por exemplo, recebe denominações como “língua padrão”, “língua formal”, “língua oficial”, “norma culta”, “língua culta”, “variedade culta”, “língua padrão formal”, “dialeto culto”, como se todas essas expressões fossem sinônimas. Só que não são. Nos estudos sociolinguísticos, as palavras língua, dialeto, variedade, padrão, norma, formal etc. têm definições bem específicas, que não podem ser misturadas.

Beira do Rio – Em conferência em Belém, o senhor apresentou resultado de pesquisa em que conclui que o português não deriva do latim, mas do galego. Mas, na mesma conferência, mostrou que o galego é uma derivação do latim vulgar. Então, não é lógico concluir que, em última instância, o português deriva do latim vulgar?

Marcos Bagno – A discussão está no nome que damos às línguas. Se o português vem do galego e o galego do latim, é claro que temos uma continuidade histórica, só nos nomes mudaram. Porém os nomes das línguas não são inocentes. Quando os estudos históricos fazem o vínculo direto “português—latim”, eles passam por cima do galego, da história e da geografia. Foi todo um processo ideológico que tentou apagar as origens galegas da língua portuguesa, para que o português fosse considerado uma língua tão nobre e importante quanto a latina.


Fonte: BEIRA DO RIO

Crítica - Bons ventos | Teatro e Dança


O jovem José Celso Martinez Corrêa, que escreveu a peça Vento Forte para um Papagaio Subir em 1958, na origem da Companhia Teat(r)o Oficina Uzyna Uzona, segue como referência para o veterano diretor. A pipa, que simboliza a liberdade dos que a empinam – metáfora autobiográfica de quem desejava cortar o cordão umbilical com a família provinciana e voar com a contracultura –, ecoa poeticamente na atual temporada de Acordes.

No espaço entre as arquibancadas do histórico Teatro Oficina, desenhado pela arquiteta Lina Bo Bardi no bairro paulistano do Bixiga, plana um 14-Bis cenográfico, pilotado pelo aviador Santos-Dumont. O efeito visual confirma o poder de mixagem de épocas e conteúdos presentes no espetáculo, uma adaptação livre de A Peça Didática de Baden-Baden sobre o Acordo, de Bertolt Brecht, autor alemão que Zé Celso não encenava desde Galileu Galilei e Na Selva das Cidades, na década de 1960.

Brecht escreveu o drama musical com composições de Paul Hindemith em 1929, ano da grande depressão econômica dos Estados Unidos. O enredo evoca as raízes do capitalismo e questiona a ação da bondade, vista como um paliativo quando a sociedade clama por transformações. Durante a travessia do oceano Atlântico, um avião é obrigado a fazer um pouso de emergência. Em terra, os tripulantes apelam à ajuda de dois coros locais, que decidem se irão socorrê-los ou não. Como resiste às resoluções coletivas, o piloto sucumbe.

Escombros

Em apenas duas horas (duração menor que a de montagens recentes do Oficina, caso da obra-prima Os Sertões, cujas cinco partes somavam 27 horas), Acordes adota com clareza procedimentos do teatro épico, valorizando o texto narrativo e a argumentação. A montagem estimula o público a fazer escolhas diante do exposto. Estão em cena elementos da identidade profana da companhia, forjados ao longo de seus 54 anos: a carnavalização, a alegoria, a bossa nova, o jazz e, inclusive, o silêncio. Ao lado de imagens documentais ou captadas ao vivo, as palavras e os corpos dos quase 40 artistas-protagonistas são usados para criticar qualquer forma de violência, seja na cidade, seja no campo. Em alguns momentos, o canto coral perde o viço, mas o núcleo de atores e músicos, ao mesmo tempo potente e suave, sustenta a nave. Ela avança com a plateia até os escombros que ocupam o terreno atrás do teatro, alargando horizontes a céu aberto.

Valmir Santos é jornalista e pesquisador de teatro.

Serviço

A peça:Acordes. Direção de José Celso Martinez Corrêa. Com Companhia Teat(r)o Oficina Uzyna Uzona. Direção musical de Felipe Botelho e Montorfano. Teatro Oficina (R. Jaceguai, 520, SP). 6ª e sáb., às 21h; dom., às 20h; dia 23/12, às 14h30. Até 23/12. R$ 20. Todas as sessões são transmitidas ao vivo pelo site www.teatroficina.com.br.


Fonte: BRAVO!

300 anos do Vocabulário de Bluteau: o estudo e a ilustração da língua


MOSTRA | 28 novembro 2012 - 21 fevereiro 2013 | Sala de Referência | Entrada livre

Celebra-se este ano o tricentenário da publicação do Vocabulário Portuguez e Latino (1712-1728). Relembram-se, nesta exposição, a figura e a obra do autor, Rafael Bluteau (1638-1734), e também o trabalho fecundo e criativo dos teatinos, seus confrades, que inovaram os estudos linguísticos em Portugal, produzindo um conjunto de obras inaugurais, no âmbito da gramática, da ortografia e da lexicografia bilingue.

O grande Vocabulário, conhecido pela designação metonímica de Bluteau, é o primeiro dicionário autorizado pela memória escrita e pelo património literário. Repercutiu-se como obra instituidora em toda a subsequente elaboração lexicográfica portuguesa.

A obra de Bluteau ficou ligada ao Convento de Nossa Senhora da Divina Providência, Ordem dos Clérigos Regulares de S. Caetano (Teatinos). Ali se produziu um conjunto de trabalhos precursores de outros ilustres estudiosos como Jerónimo Contador de Argote (1676-1749), Manuel Caetano de Sousa (1658-1734), Luís Caetano de Lima (1671-1757) e José Barbosa (1674-1750). Estes e outros teatinos encontram-se na génese da fundação da Academia Real de História. São autores de uma vasta obra impressa e manuscrita que compreende os estudos linguísticos, a história, a genealogia, a teologia e ainda a releitura e síntese de tratados científicos da época. 

Além dos trabalhos publicados, recuperam-se nesta mostra obras inéditas e inacabadas, que se conservam manuscritas na Biblioteca Nacional, que se encontram ainda insuficientemente estudadas e podem dar um apreciável contributo para a história da cultura portuguesa.


Fonte: BNP

Clipe de Segunda – Letuce – Ballet da Centopéia | @letuceletuce

Se essa música tivesse tocado antes, talvez a segunda teria começado melhor. Com um visual lindo e uma melodia gostosa, o Clipe de Segunda fica por conta do casal Letícia Novaes e Lucas Vasconcellos (porque todo mundo sabe que amo casais musicais, suas afinidades e crises). Com roteiro de Rafael Arrigoni e direção de Jo Serfaty, vamos no “Ballet da Centopéia“?



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Fonte: CARACTAGS

DANÇA GUARDADOS DA ALMA | IAP

Fonte: IAP

Raduan Nassar: o homenageado da Balada Literária 2012

(Raduan Nassar na Balada Literária de 2012
– Foto by Felipe Rousselet/SPressoSP)

Por Renato Tardivo
Em 15/12/2012


Raduan Nassar, filho de imigrantes libaneses, é paulista da cidade de Pindorama.[1] Na adolescência, vem com a família para São Paulo em busca de melhores oportunidades de estudo. Ingressa na Faculdade de Direito do Largo de São Francisco e no curso de Letras Clássicas, ambos na Universidade de São Paulo. Abandona, em seguida, o curso de Letras e começa a cursar Filosofia – única faculdade que, entre idas e vindas, viria a concluir anos mais tarde.

Nos anos 60, decidido a se dedicar à literatura, Raduan se divide entre a produção rural – chega a presidir a Associação Brasileira de Criadores de Coelho – e as atividades no Jornal do Bairro, semanário fundado pelos irmãos Nassar, do qual foi redator-chefe.

Deixa em 1974 a direção do Jornal do Bairro e leva a cabo o projeto cujas primeiras anotações datavam de alguns anos: em poucos meses, trabalhando dez horas por dia, conclui o romance Lavoura arcaica – sua obra de estréia –, publicado (com ajuda financeira do autor) em 1975.

“Quando fiz minha estréia com o Lavoura”, diz o escritor, “já tinha escrito minha obra completa”. É que a primeira versão de Um copo de cólera, novela publicada em 1978, fora escrita no início da década de 70; os contos que compõem o livro Menina a caminho e outros textos, publicado em 1997, datam dos anos 60 – exceção feita a “Mãozinhas de seda” (produzido na década de 90). E foi só.

Poucos anos após ter estreado, mais precisamente em 1984, ele anuncia o abandono da literatura para se dedicar exclusivamente à produção rural. Ora, já estava tudo escrito – antes mesmo da estréia.

Apesar de pouco extensa, entretanto, sua produção é bastante farta. Poucas vezes na literatura das últimas décadas o rigor formal e o engajamento político encontraram o simples em um universo tão poético. A obra de Raduan Nassar confirma a máxima de que um escritor escreve para morrer: não há outro destino às suas palavras senão o retorno à terra da qual brotaram.

Em Lavoura arcaica, André rememora (reconstrói) a tragédia que assolou sua família. Sufocado entre as leis rígidas do pai e o excesso de afeto da mãe, ele reivindica os seus direitos no incesto consumado com a irmã, Ana. E, depois disso, não vislumbra outra alternativa a não ser deixar a casa.

O romance, cuja estrutura é parabólica, divide-se em duas partes: “A partida” e “O retorno”. Na primeira, Pedro, o primogênito, cumpre sua missão e resgata o irmão mais novo do exílio (um quarto de pensão interiorana). Contudo, “a fuga de André mudara tudo, na aparência de nada mudar”. Mudanças irreversíveis abalaram a estrutura familiar. “O retorno”, então, é mais curto e arrebatador: marca a dissolução da família.

Consumada a tragédia, André, que assiste a tudo na condição de protagonista, não consegue se desvencilhar daquela estrutura. E, assim, transforma-se em narrador-personagem do texto que ele mesmo costura a partir dos estilhaços de memória dispersados pelo tempo irremediavelmente trágico.

Já na novela Um copo de cólera, há o embate entre as personagens “ele” e “ela”. Um acontecimento corriqueiro dispara a discussão acalorada entre o casal – um chacareiro e uma jovem jornalista. Diferentemente do romance, no qual a temática mítica confere ao texto uma temporalidade arcaica, na novela o tempo é curto, decisivo.

Enquanto Lavoura arcaica empreende um mergulho nas profundezas daquela família, desde as rememorações mais arcaicas até as (im)possibilidades para que ocorram mudanças, Um copo de cólera é um instantâneo. A linguagem colérica e teatralizada engolfa as personagens, chegando ao extremo de, numa espécie de nascimento às avessas, abrir-se “inteira e prematura pra receber de volta aquele enorme feto”.

Todavia, há diversos pontos de contato entre as duas obras: o refinamento da linguagem, os períodos longos, as metáforas sensíveis, a teatralidade, a circularidade.

Os textos são intensos, as palavras duelam entre si – mantêm uma “camaradagem com o Anjo do Mal”, confessa o escritor. “Impossível deixá-lo de fora quando eu pensava em fazer literatura. Não se pode esquecer que ele é parte do Divino, a parte que justamente promove as mudanças.”

A força do seu verbo, portanto, não mantém pacto exclusivo com o “Anjo do Mal”. Suas narrativas também escoam entre a outra margem: a “luz porosa da infância” de Lavoura arcaica, o gozo da “fantasia de se sentir embalado pelo mundo” do belíssimo conto “Aí pelas três da tarde”, os pés comparados a “dois lírios brancos” em Um copo de cólera. Sagrado e profano encontram-se em “mistura insólita”, para utilizar uma expressão do narrador de Lavoura arcaica.

“Seja como for, talvez a gente concorde nisso: nenhum grupo, familiar ou social, se organiza sem valores; como de resto, não há valores que não gerem excluídos. Na brecha larga desse desajuste é que o capeta deita e rola.” Esse comentário de Raduan sobre Lavoura arcaica é sugestivo, e, ao que parece, estende-se a toda sua obra.

O acontecimento corriqueiro que em Um copo de cólera precipita a discussão entre “ele” e “ela” é o rombo feito por uma comunidade de saúvas na “cerca-viva” – feita de plantas – da chácara. As formigas, “tão ordeiras”, violam a ordem da propriedade. É o suficiente para “o esporro” da personagem “ele”. O chacareiro não é senhor da própria chácara.

Não há cerca que não gere excluídos. “Toda ordem traz uma semente de desordem”, diz ao pai o filho pródigo, em Lavoura arcaica. Com efeito, os contornos de André perdem-se nos (des)contornos dos “corredores confusos” da casa da família. Uma vez mais, há o desajuste de que fala Raduan Nassar. Ora, a imagem do corpo de André coberto de folhas é alusiva de um retorno à natureza, além e aquém da vida. Brecha larga, híbrida, onde continente e conteúdo se confundem.

Retorno que, em Um copo de cólera, se dá ao ventre da personagem “ela” – retorno análogo, aliás, ao do conto “Um ventre seco”, no qual o narrador dispara um discurso violento endereçado à ex-mulher. Diferentemente das camadas de memória acessadas pelo narrador-personagem de Lavoura arcaica, em Um copo de cólera e “Um ventre seco”, a dimensão temporal é da ordem de um instantâneo.

Tendo o copo como continente, a temporalidade contida em Um copo de cólera tende à circularidade. Podemos pensar, nessa direção, o retorno ao ventre da mulher (mãe) – retorno que em Lavoura arcaica está sempre presente como potencialidade, e jamais se realiza. Tendo a lavoura como continente, a temporalidade contida em Lavoura arcaica tende a ser espiralada: o retorno nunca se realiza no mesmo ponto de partida.

Ora mais colérica, ora mais lírica, a poética nassariana fala eminentemente dos contrastes, empreende retornos, questiona as (im)possibilidades para que ocorram mudanças. A linguagem, arduamente trabalhada, dá muitos frutos – às vezes um tanto secos, é verdade. Mas a questão da ressiginifcação daquilo que se vive – daquilo que se é – está sempre presente.

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[1] As informações sobre a biografia de Raduan Nassar e trechos do seu depoimento constam dos Cadernos de Literatura Brasileira, n. 2, 1996.

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Renato Tardivo é escritor e psicanalista. Autor dos volumes de contos Do avesso (Com-Arte) e Silente (7Letras), e de Porvir que vem antes de tudo – literatura e cinema em Lavoura arcaica (Ateliê/Fapesp). E-mail: rctardivo@uol.com.br


Fonte: MUSA RARA

Décio Pignatari: lembrança


Um dos eventos que mais me marcou nos longos anos de estudo na UnB foi uma palestra de Décio Pignatari, a 12 de dezembro de 2003, sexta-feira. O impressionante não foi a lábia, a beleza ou qualquer outra qualidade intrínseca ao palestrante, mas sua platéia: não havia ninguém. Sabia ainda pouco sobre o poeta, tradutor, ensaísta e professor. Havia lido apenas algumas poesias concretas suas, dos anos 60. Tinha, no entanto, ciência de sua relevância para a Comunicação e seu papel primordial no desenvolvimento da poesia concreta.

Voltando ao fatídico dia, cheguei no horário estipulado, talvez um pouco antes. Carregava alguns volumes comigo, na esperança de que lá chegando, conseguisse ao menos algum autógrafo. Quando entrei no auditório, ele estava ainda vazio. O tempo passou e a situação não melhorou muito. Com Décio Pignatari já presente, fizeram sala para ver se chegava mais alguém: nada. Resolveram então formar a mesa e, de uma só vez, todos os presentes se levantaram e se dirigiram à mesa. No auditório, apenas um repórter e eu. Em uma das principais universidades do país, na seu salão mais nobre – o de Atos da Reitoria -  uma das principais figuras da intelectualidade brasileira achava-se sem interlocutores. Não por nada, um dos assuntos que mais o preocupava era o vale-tudo do ensino superior nas Humanidades. Fosse ele jogador de futebol ou ninfeta de novela, a situação seria decerto outra.

Na falta de sentido de uma banca sem público, em breve achei-me ao lado de Pignatari, a quem mostrei os volumes que portava. Conversamos brevemente sobre cada um dos livros, ele empolgadíssimo com o fato de eu estar com a coleção completa da revista “Invenção”, a segunda publicação em série dos poetas concretos – o grupo Noigandres – editada nos anos 1960. Disse-me que nem ele tinha mais esses volumes. Eu, brincando (sério), disse que continuaria sem os ter: aqueles eram meus. Ao ver o “Errâncias” entre os livros, dedicou-me esse volume publicado em 2000 dizendo-me que se tratava de seu livro predileto: P/ Oto este passeio icônico-reflexivo pela memória (minha e de outros e outras coisas) c/ o abraço do DPignatari Brasília, 12-12-03.

Essa palestra tornada bate-papo seria a cereja do bolo de uma série de apresentações e colóquios do Ciclo Encontros Antológicos,  do projeto “Florividilégio”, iniciados em finais de novembro com a apresentação “Poesia é Risco” de Augusto de Campos, no Teatro da Caixa – com grande sucesso de público. Houve também uma palestra – atropelada, por falhas na organização – com o bibliófilo José Mindlin e o crítico João Alexandre Barbosa, ambos já falecidos. De qualquer forma, o que me impressionou foi a falta de interesse na fala de um mestre: mais de 20 mil alunos, centenas de professores de Humanas, dezenas do Instituo de Letras, não houve quem se interessasse pela sua palestra.

Agora é tarde: faleceu a 2 de dezembro de 2012, no domingo, Décio Pignatari. Sua vasta produção, no entanto, fica. Mais de duas dúzias de livros, dezenas de textos entre artigos acadêmicos e textos para revistas e jornais. A obra poética foi reunida no volume “Poesia Pois é Poesia”, e conta com poemas consagrados como “Beba Coca-Cola”, de 1957, e “Organismo”, de 1960. Deixou para a Comunicação as obras “Informação. Linguagem. Comunicação”, “Contracomunicação”  e “Semiótica & literatura”, entre outras, além da tradução de Marshall McLuhan. Alguns desses volumes têm sido reeditados a décadas, em edições sucessivas. Escreveu, diagramou, compilou, traduziu, registrou, transgrediu. Resta lê-lo.


Oto Reifschneider é bacharel em História, Mestre em Sociologia e Doutor em Ciência da Informação pela Universidade de Brasília. Membro da Associação Brasileira de Bibliófilos. E-mail: oto_dias@yahoo.com


Fonte: MUSA RARA

Hawaii International Conference on Arts And Humanities 2013 | Honolulu (Estados Unidos, USA)



The 11th Annual Hawaii International Conference on Arts and Humanities will be held from January 11th (Friday) to January 14th (Monday), 2013 at the Hilton Hawaiian Village Waikiki Beach Resort in Honolulu, Hawaii. Honolulu is located on the island of Oahu. Oahu is often nicknamed "the gathering place". The 2013 Hawaii International Conference on Arts and Humanities will once again be the gathering place for academicians and professionals from arts and humanities related fields from all over the world.

The main goal of the 2013 Hawaii International Conference on Arts and Humanities is to provide an opportunity for academicians and professionals from various arts and humanities related fields from all over the world to come together and learn from each other. An additional goal of the conference is to provide a place for academicians and professionals with cross-disciplinary interests related to arts and humanities to meet and interact with members inside and outside their own particular disciplines.

We will have very limited space available this year for performing artists (live dance, theater, and music, etc) as we've had in previous years.  Please email us directly at humanities@hichumanities.org if you are interested in presenting a live performance.

The 2012 conference was a great success!  It was attended by more than 550 participants representing more than 30 countries!


Acesse o site e conheça o evento!