quarta-feira, 13 de março de 2013

III Festival Nacional do Conto



O 3º Festival Nacional do Conto, único evento dedicado ao gênero na América, desembarca pela primeira vez em Florianópolis a partir do dia 19 de março. Serão cinco dias dedicados ao conto, neste projeto de difusão, discussão e fomento, que traz para Santa Catarina o debate sobre um dos gêneros literários mais populares do globo, e que no Brasil chegou ao ápice com Machado de Assis, Clarice Lispector, Dalton Trevisan, Luiz Vilela e Rubem Fonseca. Para esta terceira edição, os nomes confirmados são Luiz Vilela (MG), João Silvério Trevisan (SP), Ronaldo Bressane (SP), Luci Collin (PR), Marcelo Moutinho (RJ), Antônio Xerxenesky (SP), Leandro Sarmatz (SP), Julián Fuks (SP), Luiz Felipe Leprevost (PR) e Silveira de Souza (SC).

SELEÇÃO DE PROPOSTAS NO ÂMBITO DO PROGRAMA INSTITUCIONAL DE APOIO À PRODUÇÃO ACADÊMICA (PIAPA)

A Pró-Reitoria de Pesquisa e Pós-Graduação (Propesp) e a Fundação de Amparo e Desenvolvimento da Pesquisa (Fadesp) tornam público o Edital para a seleção de propostas no âmbito do Programa Institucional de Apoio à Produção Acadêmica (Piapa). O programa objetiva conceder passagens aéreas visando ao comparecimento de pesquisadores da UFPA a eventos científicos no País e no exterior, para a apresentação de trabalhos científicos originais. O programa é coordenado pela Propesp, por meio de sua Diretoria de Pesquisa (DPQ), com o apoio da Fadesp. Confira aqui o Edital.

O apoio do Piapa é destinado a docentes e técnico-administrativos da UFPA que pretendam apresentar trabalhos científicos originais em eventos científicos no País ou no exterior. Segundo Emmanuel Tourinho, da Pró-Reitoria de Pesquisa e Pós-Graduação, “o Piapa oferece aos pesquisadores da UFPA, sobretudo aos mais jovens, a oportunidade de diálogo com uma comunidade científica abrangente e qualificada. Essa experiência é essencial para o aprimoramento de seu trabalho de investigação e repercute, também, na formação dos nossos alunos para a pesquisa”, explica.

Divulgação - O professor Eduardo Cerqueira, da Faculdade de Engenharia da Computação, foi um dos contemplados pelo último edital. Ele ressalta a importância do programa que ajuda a divulgar o resultado de pesquisas da UFPA: “Em 2012, fui contemplado no Edital Piapa com uma viagem ao exterior, onde apresentei um artigo e fui responsável pela coordenação geral do IFIP/ACM Latin AmericaNetworking Conference 2012 (LANC 2012), que aconteceu em Medelin, na Colômbia. O LANC é um dos eventos mais importantes na área de Redes de Computadores da América Latina e, com o apoio parcial do Piapa, mostramos resultados de pesquisas realizadas na UFPA”, conta.

Inscrições – O Edital possui duas chamadas: a primeira é destinada a eventos com início entre 10 de abril e 31 de julho de 2013, e as submissões das propostas devem ser feitas até o dia 29 de março de 2013. A segunda chamada contemplará eventos com início entre 1º de agosto e 10 de dezembro de 2013 e as propostas devem ser submetidas até o dia 7 de junho de 2013.

Para as inscrições, o candidato deve apresentar o formulário de inscrição, conforme modelo apresentado no Anexo I do Edital; cópia do resumo do trabalho a ser apresentado no evento; comprovantes de submissão do trabalho para apresentação no evento; documento de divulgação do evento ou cópia da página do evento na internet; cópia do(s) trabalho(s) científico(s) publicado(s) no ano de 2012, conforme definido nos itens 3.5. e 4.3 do Edital e Curriculum Vitae disponível online, na Plataforma Lattes do CNPq (não é necessário apresentar cópia impressa).

A Propesp ressalta que não é necessário apresentar o comprovante de aceitação do trabalho por ocasião da solicitação do apoio. Caso a proposta seja aprovada, o pesquisador poderá apresentar o comprovante no momento da emissão do bilhete aéreo.

A documentação completa para a candidatura deve ser encaminhada à Propesp, por meio de processo registrado no Protocolo Geral da UFPA.

Fonte: PROPESP

Seleção de bolsistas estagiários

A Pró-Reitoria de Pesquisa e Pós-Graduação (PROPESP) torna pública a seleção de Bolsistas Estagiários, para atuação junto às Diretorias de Pesquisa, de Pós-Graduação e de Capacitação.

Para mais informações, leia o edital aqui.

sexta-feira, 8 de março de 2013

A morte do tradutor de Guimarães Rosa

Curt Meyer-Clason, que morreu em janeiro, foi um dos maiores divulgadores da literatura latino-americana na Europa. Traduziu para o alemão obras seminais como “Grande Sertão: Veredas”, de Guimarães Rosa, e “Cem Anos de Solidão”, de Gabriel García Márquez


Curt Meyer-Clason, o grande divulgador da literatura brasileira, latino-americana e portuguesa na Europa no pós-Segunda Guerra Mundial, morreu em Munique, sul da Ale­ma­nha, em janeiro, aos 101 anos.

Meyer-Clason, tradutor, escritor, editor, ensaísta e crítico, deixou uma obra incomparável — cujo volume e conteúdo só aos poucos é conhecida em sua profundidade. Seu nome não constava nas manchetes de primeira página — só nos círculos editoriais, entre autores e leitores. Os estudiosos do ramo terão décadas de trabalho para pesquisar, analisar e interpretar a enorme quantidade de documentos, registros, apontamentos que Curt Meyer-Clason produziu e deixou para a posteridade. Em seu acervo encontram-se, além disso, milhares de cartas de autores que traduziu.

Sua biografia é tão diversificada como os livros que traduziu. Por uma invulgar casualidade do destino, sua vida enveredou por um caminho que jamais planejara.

Curt Meyer-Cla­son nasceu em 1910 em Ludwigsburgo, cidade próxima à Stuttgart, no sudoeste da A­le­manha. Seus ancestrais eram da nobreza; seu pai era oficial no exército prussiano. Frequentou o ginásio em Stuttgart e, em seguida, matriculou-se numa escola de co­mércio. Era a carreira que pretendera seguir. Partiu para o norte da Alemanha. Em Bremen encontrou trabalho numa firma americana que atuava no ramo de importação de algodão e tinha filial em Le Havre. O jovem empregado aprendera, segundo suas próprias palavras, a “classificar algodão”. Do­minava o inglês e o francês e por isso foi incumbido de tratar da correspondência da empresa, trabalho este que tornava necessário seu constante deslocamento entre Bremen e Le Havre.

Em 1936 a firma enviou-o ao Brasil, para trabalhar em São Paulo como “controlador de algodão”. Nesta função conheceu os mais importantes portos do Brasil, também passava longos períodos na Argentina.

Radicou-se em Porto Alegre, onde dirigiu uma empresa fabricante de móveis. Curt Meyer-Cla­son tornou-se personagem conhecida na sociedade local. Desfrutava os prazeres que seu novo ambiente oferecia. Era jovem e na época, o que era raro em sua i­da­de, já era dono de um automóvel conversível, uma prova de reconhecido status. Mais tarde, em uma de suas entrevistas, Meyer-Clason, em referência àquela época, disse: “Naqueles tempos eu era um dandy. Eu adorava três coisas: moças bonitas, gravatas e tênis”. 

Corria o ano de 1942. En­quanto na Europa a Segun­da Guerra estava em pleno andamento, no Brasil Getúlio Var­gas tratava de manejar-se entre os blocos rivais. Curt Meyer-Clason foi confrontado com os algozes do Estado Novo. Foi preso e condenado a 20 anos de prisão — sob a acusação estar en­volvido em espionagens a favor do governo nazista da Alemanha. Até hoje essas acusações nunca foram confirmadas. Curt Meyer-Clason foi parar no presídio da Ilha Grande, no Rio de Janeiro, on­de ficou preso por cinco anos. Sobre Ilha Grande, disse ele, mais tarde: “O tempo pa­rou, enquanto que, em ou­tras partes do mundo, mi­lhões de ho­mens da mesma ida­­­de se matavam mutuamente”.

Seu companheiro no cárcere, outro cidadão alemão, o barão Gerhard von Klein, poliglota e extremamente culto, conseguiu despertar em Curt Meyer-Clason o interesse pela leitura. “Foi aí que eu aprendi a ler. Lía­mos tudo: Rilke, Thomas Mann, Friedell; Mon­taigne, Pascal, Pro­ust, Bernanos, Berdjiajew, Bu­­ber, os grandes russos e autores brasileiros. Tornei-me um outro homem.”

A consequência de sua amarga experiência com a repressão do Estado Novo, aliada as suas naturais aptidões, aos seus interesses, as suas paixões e a sua imensa capacidade de trabalho, trouxe-lhe, mais tar­­de, os méritos que indubitavelmente merece. O caminho por ele per­corrido foi acidentado e tortuoso. Os anos de cárcere foram a casualidade do seu destino. Liberto do presídio da Ilha Grande, Curt Meyer-Clason estabeleceu-se no Rio de Janeiro, foi trabalhar no “comércio de compensação alimentícia exportando madeira de pinho contra a importação de uísque escocês”. 

Em 1954, de­pois de 17 anos no Bra­sil, Mey­er-Clason regressa à Alemanha “como um recém-nascido”. Fixa residência em Munique e começa a trabalhar como revisor para várias editoras. Nessa época ele era um dos mais frequentes visitantes do Consulado Geral do Brasil para onde se dirigia quase que diariamente “a fim de matar a saudade que sentia dopaís”. Não demorou e Meyer-Clason foi sendo solicitado para trabalhos de tradução. Foi assim que nasceu a ideia e o seu desejo de transferir a literatura latino-americana e a forma de vida do continente à Europa. Começou a verter obras do espanhol, português, francês e inglês para o alemão.

Curt Meyer-Clason permaneceu em Munique até 1969. Nesse entretempo já havia traduzido Gabriel García Márquez, João Guimarães Rosa, Juan Carlos Onetti, César Vallejo, Augusto Roa Bastos, Jorge Amado, Carlos Drummond de Andrade e outros. Meyer-Clason tornara-se figura respeitada nos círculos editoriais e culturais da Alemanha. Paralelamente ao seu trabalho, Meyer-Clason mantinha estreito contato com quase todos os autores latino-americanos vivos da época.

Em 1969 Meyer-Clason recebeu o convite para assumir a função de diretor do Instituto Goethe, em Lisboa. Permaneceu na capital lusitana até sua aposentadoria em 1976. Portugal ainda vivia sob a influência dos anos da ditadura de Antonio de Oliveira Salazar, que deixara o governo, por questões de saúde, em 1968. Seu sucessor, Marcelo Caetano, seguindo a mes­ma linha política de repressão salazarista, até a Revolução dos Cravos, em 1974, em nada diminuíu o controle dos meios de comunicação. Meyer-Clason resolveu o problema à sua maneira. Transformou o Instituto Goethe, de Lisboa, “nu­ma porta aberta para a Eu­ropa”. A sede do instituto servia de ponto de encontro para escritores, representantes da intelectualidade portuguesa e dissidentes de todas as correntes políticas. Por outro lado, Meyer-Clason convidava autores e intelectuais alemães para encontros com autores portugueses. Os alemães Wer­ner Herzog, Peter Weiss, Walter Jens, Martin Walser, Gün­ther Grass, Heinrich Böll, Hans-Mag­nus Enzensberger e o austríaco Tho­mas Ber­nhard são apenas alguns dos proeminentes da cultura alemã que passaram por Lisboa naquela época. Com uma companhia teatral de Lisboa, Meyer-Clason organizou apresentações do dramaturgo alemão Bertholt Bre­­cht na capital lusitana. Para­lelamente Meyer-Clason ajudou au­­tores portugueses, como Miguel Torga, José Sara­mago, António Lo­bo Antunes, a encontrar editoras para lançar suas obras na Alemanha.

O Instituto Goethe, de Lisboa, foi transformado em laboratório cutural “Eu vivia a meio passo da ilegalidade”, diria mais tarde. Em sua obra “Diários Portu­gueses”, ele relata em detalhes os problemas enfrentados em Por­tugal du­rante o período repressivo. Curt Meyer-Clason tornou-se figura cultural respeitável em Portugal. Quando circulou a notícia de que deixaria a direção do Instituto Goethe, em Lisboa, foi iniciada uma campanha na mídia portuguesa, liderada por António Lobo Antunes, com o objetivo de convencê-lo a permanecer.

Entre os autores portugueses que verteu para o alemão estão Eça de Queirós, Camilo Castelo Bran­co, Miguel Torga, Fernando Na­mora, Carlos de Oliveira Al­meida Faria, Urbano Tavares Ro­drigues, Jorge de Sena, Eugenio de An­drade e Sofia de Mello Brey­ner-Andresen. Também editou coletâneas de contos, poesias, ficção e ensaio.

Em 1976 Curt Meyer-Clason mais uma vez regressa a Munique , onde se dedica inteiramente aos seus trabalhos de tradução e à redação de textos e ensaios. Como autor deixou 15 títulos, entre os quais “Equador”, um romance biográfico no qual narra sua juventude sem orientação e identidade pessoal como resultado do período histórico que passava a Alemanha no fim do século 19 e princípio do século 20.

Sua obra principal, no entanto, encontra-se em seu amplo trabalho de tradutor. É impossível mencionar neste texto todos os títulos das obras por ele traduzidas, pois a lista completa ultrapassa mais de 150 títulos. Para ilustrar seguem, além dos autores portugueses já mencionados (cuja lista não está completa), outros nomes de autores brasileiros e latino-americanos traduzidos por Curt Meyer-Clason: Adonias Filho, Jorge Amado, Carlos Drummond de Andrade, Mário de Andrade, Jorge Luis Borges, Ignácio de Loyola Bran­dão, José Cândido de Carvalho, Rubén Darío, Autran Dourado, Almeida Faria, Gabriel García Márquez, Ferreira Gullar, Clarice Lispector, Machado de Assis, João Cabral de Melo Neto, Gerardo Mello Mourão, Pablo Neruda, Darcy Ribeiro, João U­baldo Ri­bei­ro, Augusto Roas Bastos, João Guimarães Rosa, Fernando Sabino, José Sarney, César Vallejo, Octávio Paz , Antonio Di Bene­det­to e muitos outros.

Impressionante também é a lista de autores de outras nacionalidades que foram traduzidos por Curt Meyer-Clason. Eis alguns exemplos: Louis Baudin, Brendan Behan, Isaiah Berlin, Erich Blau, Alphonse Boudard, Geoffrey H.S. Bushnell, Alfred Chester, Antonio Di Benedetto, Jean Descola, José Gorostiza, Bernard Gorsky, Ronald Hardy, Alan Harrington, Sean Hignett, Martin Buber, Alberto Moravia, Luc Stang, Mempo Gi­ardinelli, Vladímir Nabókov, Henry Roth, Elie Wiesel.
A relação de autores aqui citados não é completa. Curt Meyer-Clason não traduziu apenas um título de cada autor, em alguns casos traduziu suas obras completas ou parte destas.

Conheci Curt Meyer-Clason em 1992, num por oportunidade de um seminário organizado pela Uni­versidade de Stuttgart. O renomado tradutor fora convidado para proferir uma série de palestras sobre literatura latino-americana. Na época Meyer-Clason estava com 82 anos, uma idade em que muita gente nem mais sai de casa. Sua aparência física chamava atenção. Alto como um soldado prussiano, de camisa e cachecol vermelho, subia ereto ao palco, não demonstrando a idade. Homem de personalidade carismática, cativava a audiência com suas primeiras frases e prendia-lhes a atenção até o término das palestras que, em regra, duravam duas horas. Vinha com seus textos preparados, mas nem sempre os usava ou usava-os só por alguns minutos. Não raras vezes punha-os de lado e continuava a falar conforme lhe vinham as ideias. Formava suas frases de forma precisa, palavras exatas, com uma lucidez de espírito que transbordava seu profundo conhecimento literário. “O homem é uma biblioteca ambulante”, disse um cidadão ao meu lado.

No fim de cada palestra, foram seis no decorrer de uma semana, Curt Meyer-Clason permanecia à disposição para eventuais perguntas. Numa palestra, já era tarde, o ponteiro do relógio ultrapassava as 23h, e ao responder uma das perguntas, Meyer-Clason fez referência a sua tradução de “Grande Sertão: Veredas” e aos seus contatos com João Guimarães Rosa. Aproveitei para formular uma pergunta: “Sr. Meyer-Clason, eu gostaria de saber se o senhor teve muitos problemas para traduzir o ‘Grande Sertão’”. O conferencista olha-me de forma inquisitória, em seguida, num relance, deixa seus olhos vagar pela sala enorme e observa: “Escuta, esta sala é demasiadamente grande para este pequeno grupo. Conheço um barzinho, pertinho, a uma quadra e meia daqui. Que lhes parece, vamos todos para lá, e aí eu respondo a sua pergunta”.

Fomos. Seis pessoas, com ele sete. Mal o garçom trouxe os drinques, Meyer-Clason, sentado a minha frente, volta à minha pergunta: “Você quer saber se eu tive pro­­­blemas com a tradução de o ‘Grande Sertão’?” E logo enveredou na resposta. Em tom professoral, Meyer-Clason, começa seu monólogo, que nos prende: “É lógico que não foi trabalho fácil. Mas graças à amizade que, há longos anos, eu já vinha mantendo com João Guimarães Rosa, foi-me possível resolver as partes mais difíceis com o auxílio do próprio autor. Durante aquele período, João e eu trocamos mais de 500 cartas. Eu punha as questões, formulava as perguntas e ele respondia. Além disso, Guimarães Rosa veio a Munique várias vezes a fim de discutirmos os termos e as passagens mais complicadas. Perma­necia, às vezes, de três a quatro semanas. Regressava ao Brasil para retornar algumas semans mais tarde. Às vezes discutíamos dias a fim de encontrar a terminologia certa ou adequada de um só vocábulo que, muitas vezes, nem se encontrava no dicionário. O que muito contribuíu neste trabalho foi o fato de João Guimarães Rosa ter sido poliglota. Falava fluentemente vários idiomas, entre os quais também o alemão que aprendera durante o período de 1938 a 1942, no qual fora cônsul-geral do Brasil, em Hamburgo. Aliás, o mesmo método de trabalho João Gui­marães Rosa manteve posteriormente com o seu tradutor italiano e americano. Tra­duzir o “Grande Sertão” é mais ou menos como traduzir o “Ulisses”, de James Joyce”, disse Meyer-Clason enquanto bebericava seu drinque. Despe­dimo-nos quando o ponteiro já se aproximava das quatro horas da manhã e o mestre-tradutor, o erudito em literatura brasileira, não demonstrava ne­nhum vestígio de cansaço.

Os temas das noites seguintes não foram menos cativantes: Introdução à Literatura Latino-Americana e Jorge Luis Borges; Bra­silidade, As Mais Importantes Correntes da Literatura Brasileira, nos exemplos de Jorge Amado, Car­los Drummond de Andrade e João Guimarães Rosa; Pablo Neruda e a voz do Chile; O mundo de Gabriel García Márquez; Poder e Política na Literatura Latino-A­mericana. Todas as noites, ao fim da palestra, encontrávamo-nos no mesmo barzinho “a uma quadra e meia daqui”. Na última noite, um dos participantes do pequeno gru­po, um estudante de literatura da Universidade de Heidelberg co­menta: “Esta semana valeu para dois anos de estudos universitários. Nunca aprendi tanto em tão pou­co tempo”.

Após estes encontros continuei a manter contato durante algum tempo com o invulgar mestre. Guardo, desta época, alguma cartas que trocamos.

Curt Meyer-Clason foi integrante da Associação dos Es­critores Alemães; do pen Clube da Ale­manha; e membro-correspondente da Academia Brasileira de Letras. Em 1972 recebeu o Prê­mio de Tradutor, da Academia Ale­mã para Língua e Poesia, e em 1996 foi agraciado com a Grã-Cruz de Mérito da República Federal da Alemanha.

Graças ao trabalho deste grande divulgador as literaturas brasileira, latino-americana e portuguesa tornaram-se conhecidas na Eu­ropa. Meyer-Clason foi, como ele mes­mo dizia, “um construtor de pontes entre vários países”. No século 20, nenhum outro estudioso divulgou tanto e tão bem a literatura brasi­leira na Europa. Foi um dos ma­iores defensores do Brasil, apesar dos anos que passou nas pestilentas celas da prisão da Ilha Grande. Seus profundos conhecimentos sobre a literatura brasileira não têm comparação. Trabalhou em silêncio até os seus últimos dias e em silêncio se despediu, no mês de janeiro, para a sua última viagem. A literatura brasileira e o Bra­­sil muito lhe devem. Rendamo-lhe o profundo respeito e a homenagem perene que merece.

terça-feira, 5 de março de 2013

EELLIP - Dica de leitura: Aspectos históricos e políticos de “A estória de Lélio e Lina”

Trecho: “Assim, vê-se que a proposta de Lina diante da desagregação do Sertão Tradicional frente à Modernidade é a construção de um novo modo de viver, não totalmente enraizado em nenhum dos dois, mas múltiplo, de acordo com o que for interessante no momento a cada um, sem excluir os que não se enquadram nos padrões, mas dando-lhes o mesmo valor que a todos os outros, integrando as diferenças por não se pautar numa única verdade, fixa e imutável. Ao menos, é o que se pode inferir de suas ações e palavras, ainda que isso não fosse totalmente consciente para ela. Em Lina, o julgar cada caso como específico, ao invés de subjugá-lo a uma regra geral dominante e dominadora, mostra a possibilidade de se fazer sujeito da própria História. Mais uma vez, Rosa mostra o sertanejo como alguém que busca sua própria autonomia e luta pela construção de um mundo que lhe agrade e não alguém passivo diante da chegada de uma Modernidade invencível e superior. Essa valorização do sertanejo enquanto capaz de ordenar e guiar seu destino, não precisando ser tutelado ou comandado pelo ― urbano civilizado, embora possa com esse aprender e crescer, é um dos motes principais da obra rosiana. Não apenas dela, porém, uma vez que podemos ver sinais desse reconhecimento em outras obras da tradição literária brasileira, passando pelo romance regionalista de 30 e 40 e indo até Os Sertões, de Euclides da Cunha, num movimento de (re)conhecimento, por parte do urbano, do Brasil do interior. Em Rosa, o civilizado urbano descobre que o sertanejo também tem uma rica vida interior, com projetos, sonhos, criatividade... A estória de Lélio e Lina é mais um capítulo da construção de uma identidade nacional que não vê no regional o pitoresco e o exótico, mas um igual, ainda que diferente. Construção que, ao que tudo indica, ainda está por acabar.”

BITTENCOURT, Rodrigo do Prado. Aspectos históricos e políticos de “A estória de Lélio e Lina”, de João Guimarães Rosa. In: XXVII Seminário Brasileiro de Crítica Literária, 2010, Porto Alegre. Anais do XXVII Seminário Brasileiro de Crítica Literária. Porto Alegre: Pontíficia Universidade Católica, 2011. p. 485-499.

Encontre o texto completo clicando aqui.





segunda-feira, 4 de março de 2013

A LITERATURA EM 2013

Centenário de Vinicius de Moraes, Brasil na Feira de Frankfurt e possível inédito de Chico Buarque estão entre destaques.

Os centenários de nascimento de Albert Camus, Rubem Braga e Vinicius de Moraes devem agitar os lançamentos e eventos do ano, além de outras efemérides como os 120 anos de nascimento de Mário de Andrade, 190 de Gonçalves Dias, 90 de Millôr Fernandes, Fernando Sabino, Lygia Fagundes Telles e Italo Calvino e 80 de Rubem Alves; além dos 100 anos de morte de Ferdinand de Saussure e 50 de C. S. Lewis.

Homenageado da FLIP, Graciliano Ramos, cujos 120 anos de nascimento foram comemorados em 2012, também deve ganhar destaque. A festa, que acontece entre 3 e 7 de julho, ainda não tem escritores confirmados.

Já a Fliporto – que terá como tema “A literatura é um jogo”, pretendendo fazer um diálogo entre a literatura e o esporte, tendo em vista a Copa do Mundo e as Olimpíadas –, leva a Pernambuco, entre 15 e 18 de novembro, convidados como Ariano Suassuna, Nélida Piñon e João Ubaldo Ribeiro.
O ano da Alemanha no Brasil, que terá início em maio, deve estimular diversos projetos bilaterais, sendo o mais notável a Feira do Livro de Frankfurt (9 a 13/10), quando os olhos do mercado literário mundial se voltarão para o Brasil, homenageado do evento.
“A Feira de Frankfurt aumentará o número de vozes brasileiras falando para um público leitor maior, mais amplo. A ‘República Mundial das Letras’ precisa das nossas vozes, e é através de iniciativas como a da Feira de Frankfurt – e de outras, como a de Guadalajara, no México, a de Bolonha, para livros infantis e juvenis, e mesmo a de Londres, também para negociações de direitos – que acontece essa ampliação”, diz Felipe Lindoso, antropólogo, jornalista e consultor de políticas públicas para o livro e leitura.
Novo livro de Chico Buarque?
Em janeiro, a Bertrand lança Eu e Você, de Niccolò Ammaniti, livro que deu origem ao último filme de Bernardo Bertolucci, homônimo, que deve estrear por aqui em abril; e a Ed. 34 lança O Mistério-Bufo, de Vladímir Maiakóvski, que traz pela primeira vez ao público brasileiro a versão final da peça. Em fevereiro, a Leya reedita Mayombe e Geração Utopia, do angolano Pepetela – segundo a editora, esgotados há mais de 20 anos.
Em março, a Boitempo lança O capital – Livro I com tradução de Rubens Enderle, pela primeira vez a partir da edição preparada no âmbito do projeto alemão MEGA-2 (Marx-Engels-Gesamtausgabe). A Objetiva lança os volumes 2 e 3 de 1Q84, de Haruki Murakami, pelo selo Alfaguara, em março e novembro respectivamente e, em junho, as memórias do cineasta Cacá Diegues, ainda sem título.
A Record prevê para o primeiro semestre o lançamento de Fernando Pessoa, o livro das citações, que sai junto com uma grande edição revista da biografia premiada Fernando Pessoa: uma quase biografia, ambos de José Paulo Cavalcante Filho, além da Nova antologia de contos eróticos, de Dalton Trevisan. A Editora Globo prepara o lançamento de O rei faz a vênia e mata e Fera da alma, ambos de Herta Müller, e 1889, de Laurentino Gomes, ainda sem data.
Na Companhia das Letras estão previstos livros inéditos de pesos pesados da casa como Bernardo Carvalho, Marçal Aquino, Milton Hatoum e possivelmente Chico Buarque, segundo o publisher Otávio Marques da Costa. Além disso, prevê-se o segundo volume da biografia de Getúlio Vargas, por Lira Neto, que pretende trazer novas luzes sobre a Revolução de 30 e o envolvimento do Brasil na Segunda Guerra, e a crônica dos anos Lula por Fernando Morais.
No campo das traduções, o jornalista e escritor Edney Silvestre faz a previsão: “Eu aposto no interesse por Alberto Mussa, Tatiana Salem Levy, Luiz Ruffato e o João Paulo Cuenca”.
Gigantes do mercado
Segundo Felipe Lindoso, com a chegada da Amazon no Brasil, as editoras e livrarias, que já conhecem bem a voracidade monopolista da multinacional, procurarão se defender. “A Livraria Cultura já tem um acordo com a Kobo, que tem outro e-reader muito bom e que não está preso ao ecossistema da Amazon”, exemplifica.
“A Amazon induzirá fortemente as editoras a prestarem atenção à questão dos metadados, obrigando os varejistas também a melhorarem seus sites, que são todos, sem exceção, absolutamente hostis e ridiculamente ineficientes na busca dos livros, autores e contato com os clientes”, completa.
Para o crítico literário Alcir Pécora, se a Amazon seguir a mesma linha de ação que segue nos Estados Unidos e na Europa, deve possibilitar aos brasileiros o acesso a catálogos maiores a preços mais baixos. Contudo, segundo ele, “a pior parte é que deve diminuir o número de livrarias físicas, que já é pequeno”.
Outra novidade que pretende agitar o mercado é o anúncio da fusão, em outubro deste ano, entre a Penguin e a Random House, pelo grupo britânico Pearson e o conglomerado alemão Bertelsmann, resultando no maior grupo editorial do mundo. “A julgar pelo tipo ordinário de fusão econômica que ocorre usualmente, esta significa apenas mais monopólio e homogeneização do mercado”, opina Alcir Pécora.
O MinC e a polêmica dos editais setoriais
O lançamento de editais para produtores e criadores negros, anunciados pela ministra Marta Suplicy no fim de novembro, dá o tom das políticas públicas do Ministério da Cultura para os próximos anos.
Se por um lado ações afirmativas como essa são importantes e eficazes para abrir espaço, alguns especialistas discutem sua prioridade. “Num país tão deficiente em ensino básico, recursos públicos deveriam ir muito mais para a educação integral e universal de qualidade – ou seja, extensiva a brasileiros de qualquer classe, cor, credo, etc. – do que para projetos particulares de cultura”, diz Pécora.
Para Lindoso, os grandes desafios do MinC são outros: “A Lei de Direitos Autorais, por exemplo, é um nó que precisa ser desatado. A Lei que cria o Fundo para Desenvolvimento das Bibliotecas e Programas de Leitura, compromisso assumido pelo setor editorial quando da desoneração promovida pelo Presidente Lula, precisa ser implementada, assim como o Vale Cultura”.

Fonte: Revista Cult

LUÊ FAZ SHOW DE LANÇAMENTO DE SEU PRIMEIRO CD

Luê lança seu primeiro disco em Belém, no dia 9 de março, às 21h, no Theatro da Paz.





Promessa da música paraense, a cantora, instrumentista e compositora sobe ao palco do Theatro da Paz para o show de lançamento do primeiro disco da carreira, “A Fim de Onda”, o qual traz uma leitura bem particular dos ritmos paraenses. Carimbó, guitarrada, zouk (gênero musical originário das Antilhas que é muito comum na região), entre outros.

E ainda há espaço para o flerte com o soul e o universo pop. Na apresentação, Luê será acompanhada pelos músicos Felipe Cordeiro (guitarra), Klaus Sena (baixo), Artur Kunz (bateria) e Caetano Malta (guitarra).

Com formação musical clássica em violino, Luê fez parte da Orquestra Sinfônica da Escola de Música da UFPA (OSUFPA). A artista, porém, sempre teve um pé na música popular, isso também devido à influência familiar: Luê é filha de Junior Soares, um dos fundadores do Arraial do Pavulagem, grupo voltado para a pesquisa, produção e valorização da cultura popular do norte do Brasil, o que lhe proporcionou o contato próximo com os ritmos da região.

A faixa-título do álbum, A Fim de Onda, já está disponível para download legal e gratuito no portal, na seção ‘Para Baixar’. A música foi composta pela artista em parceria com o cantor Arnaldo Antunes e o produtor Betão Aguiar. A direção musical é de Felipe Cordeiro e Betão Aguiar. O álbum e a turnê fazem parte do programa Natura Musical, através da Lei Semear.

A venda de ingressos para o show começa no próximo dia 5 de março. Em horário comercial na bilheteria do teatro.


Luê – Show de lançamento do CD “A Fim de Onda”

Local: Theatro da Paz

Data: 9 de março

Horário: 21h

Fonte: DOL